A situação paradoxal em Maharashtra com a proibição do abate de touros!
Apesar de na Índia sua população ser bastante pobre, em especial na região rural, um vídeo dramático ganhou popularidade nas planícies quentes do Estado de Maharashtra, passando de um celular a outro!!!
Nesse vídeo se mostra um homem com seus dois touros em uma feira de gado. Ele grita que os touros, seus animais de tração, estão velhos para arar o campo, não conseguem trabalhar direito, e que as suas poucas economias terminaram. Salienta que necessita vender os animais, mas nenhum dos compradores usuais – os intermediários hindus que vendem os touros aos muçulmanos – está comprando os dois touros.
Sem o dinheiro dos touros velhos, ele diz que não tem como comprar animais novos e aí grita o homem: “Como é que vou poder continuar a trabalhar na terra? Ou será que devia simplesmente me enforcar?”
E essa não é uma ameaça vazia, pois essa região da Índia ganhou notoriedade internacional pela sua alta taxa de suicídios, pois desde 2011, em média, quatro agricultores se mataram por dia!!!
Os fracassos na agricultura com safras insuficientes são frequentes em Maharashtra. Como os agricultores comumente fazem empréstimos com vencimento anual, muitos deles acabam pagando os empréstimos em parte com a venda de touros que passaram da idade útil, mas há também aqueles que não nada para vender e aí, desesperados, acabam se suicidando.
Embora os agricultores em sua maioria sejam hindus, que veneram a vaca como mãe altruísta, gentil e sagrada, eles não se importavam muito com o que era feito dos touros…
Mas houve uma terrível mudança quando o partido nacionalista hindu Bharatiya Janata (BJP) ganhou as eleições em outubro de 2014, o Estado que inclui a cidade de Mumbai, pois em março de 2015, ele aprovou uma emenda que estava parada havia muito tempo, ou seja, a Lei de Preservação Ambiental de Maharashtra.
Agora a norma proíbe o abate da “prole de vacas” e criminaliza a venda ou até mesmo a posse da carne bovina, que pode ser punida com até cinco anos de prisão. Essa lei está impedindo a venda de gado e carne bovina, fonte de subsistência de mais de 1 milhão de moradores de Maharashtra de todas a religiões.
As pessoas de fora da Índia podem se surpreender com a simples existência de um setor de venda de carne bovina nessa nação na qual 80% do 1,25 bilhão de seus habitantes se dizem hindus e um terço pratica algum tipo de vegetarianismo, com o que o índice indiano de consumo de carne é o mais baixo do mundo!!!
Porém, a Índia também possui o maior “estoque bovino” do mundo, com mais de 310 milhões de cabeças de gado, incluindo os búfalos. Por sinal, a carne de búfalo é o produto de exportação agrícola mais valioso do país.
Muçulmanos, dalits (a casta infeiror), cristãos e alguns outros hindus consomem carne bovina. Antes da promulgação da lei; era comum encontrar em Mumbai barracas vendendo espetinhos de carne e restaurantes que serviam bifes ou cozidos de carne.

Um agricultor indiano que vive da plantação de soja no Estado de Maharashtra.
Antes da proibição, em muitos mercados de gado fervilhavam os negociantes comprando (e vendendo) touros.
Essa instituição da lei da proibição do consumo da carne bovina foi terrível para a comunidade qureshi de Maharashtra, que tem centenas de milhares de integrantes.
No intrincado sistema indiano de castas, os qureshi, que são muçulmanos, constituem o principal grupo responsável pelo abate do gado, sendo aqueles que trabalham em matadouros, nos quais, antes da proibição, 80% dos animais eram touros e os outros 20% eram búfalos.
Estima-se que cerca de 500 mil pessoas, a maioria qureshis, perderam seus empregos com a proibição da venda da carne bovina no estado de Maharashtra.
Sem dúvida, o BJP aprovou essa lei como uma maneira de punir os muçulmanos e, com isso, afetou milhões de agricultores hindus para os quais a venda dos touros era uma fonte crucial de renda. Deve-se ressaltar que essa proibição entrou em vigor num momento em que o ritmo da vida na zona rural de Maharashtra passa por mudanças sutis que estão tornando os touros menos necessários. Isso porque os tratores estão ficando mais acessíveis, e muitos agricultores estão conseguindo comprar tratores ou então os alugam, o que lhes custa menos que alimentar os touros o tempo todo. Em média, gasta-se US$ 100 por mês para alimentar um touro e é preciso pagar alguém para cuidar dele.
Mas os agricultores estão revoltados e pode ocorrer a qualquer momento um protesto com muitos milhares de agricultores soltando os seus touros velhos diante da sede do governo para que fiquem depois perambulando pelas ruas como se fossem cachorros.
Engenheiro, mestre em estatística, professor, autor de dezenas de livros, gestor educacional, palestrante e consultor. Editor chefe da Revista Criática.