autoridades locais submeteram as cidades
a quarentena.
Sim: quarentena!!!
Ninguém podia entrar ou sair das re-
giões atingidas enquanto houvesse alguém
gargalhando.
Sem achar a menor graça naquilo tudo,
investigou-se a possibilidade de um surto
de encefalite ou mesmo alguma reação tó-
xica, sabe-se lá.
Todos os resultados foram negativos.
A conclusão foi apelar para a boa e velha
psicologia: presumivelmente o que houve
com as meninas de Kahasha foi um
surto
de histeria
.
Explicou Robert R. Provine: “O riso co-
letivo desafia a velha hipótese de que so-
mos criaturas racionais, no controle pleno e
consciente de nosso comportamento.
A reação das meninas da Tanzânia pode
ser comparada ao latido de muitos cães jun-
tos ou ao piar dos pássaros, duas reações
coletivas incontroláveis no reino animal.
O ataque geral de riso até pode ser um
traço de união com o resto da natureza,
mas o riso – a gargalhada, o humor, a graça
– é um
poderoso fenômeno de socialização
entre os seres humanos
.
O riso é a mais poderosa forma de inte-
ração social entre os seres humanos.
Pois é, somos bastante racionais e, no
entanto, rimos de frases que não têm a
menor sombra de humor muitas vezes por-
que outras pessoas começam a rir antes.
E o motivo é razoavelmente simples para
entender, pois temos no cérebro mecanis-
mos que detectam e reproduzem o riso.
Esses mecanismos seriam responsá-
veis por surtos hilários como o da Tanzâ-
nia e também pela capacidade de ambos
os sexos acharem graça em determinadas
coisas.
A risada, tudo indica, é uma
‘relíquia’
vocal dos tempos mais primitivos que coe-
xistiria com a fala humana.
Estaria aí a razão para o
homo sapiens
ser dotado de fala e os macacos não.
Embora ambos guinchem coletivamente,
são diferenças sutis – mas que, ao longo da
evolução contaram muito a favor do gênero
humano.
A principal característica está na respi-
ração. Desde que o homem passou a ser
bípede, houve um maior controle da
respi-
ração
e, consequentemente, um ganho na
emissão vocal
.
Dessa maneira, enquanto um chimpanzé
emite seu rá! rá! rá! a cada expiração/ins-
piração, o ser humano consegue modulá-lo
através da expiração.
A íntima relação entre respiração e vo-
calização nos chimpanzés explica o fato de,
até os dias de hoje, ser muito difícil ensinar
a eles palavras que não sejam monossíla-
bas.”
O naturalista inglês Charles Darwin
(1809- 1882), no seu livro
A Expressão das
Emoções no Homem e nos Animais
, registrou
que, se alguém fizesse cócegas num jovem
chimpanzé , ele seria capaz de emitir sons
semelhantes a risadas.
Obviamente, os seres humanos costu-
mam gargalhar, quando alguém lhes faz có-
cegas, mas já os chimpanzés, e em espe-
cial os animais domésticos, até agora não
caíram na risada como fazem os humanos
ao assistirem programas humorísticos na
televisão, do tipo
situation comedy
(comédia
de situação).
COMPORTAMENTO
E
m janeiro de 1962, um surto de riso
num internato para garotas de Kaha-
sha, um pequeno vilarejo na Tanzânia,
obrigou
o fechamento temporário da escola.
A
epidemia
começara da maneira mais
simples do mundo.
Três alunos desataram a rir – sim, ape-
nas
ha!ha!ha!
– e logo as gargalhadas toma-
ram conta de outras 95 das 159 meninas
do internato.
Foram “ataques” que podiam durar pou-
cos minutos, um par de horas,
mas também
vários dias
!!!
A escola reabriu suas portas quatro me-
ses depois, porém teve de fechá-las nova-
mente em poucas semanas.
Tudo porque outras 57 meninas haviam
sido contaminadas pelo surto de hilaridade.
As risadas não se restringiram aos cor-
redores da escola e a epidemia espalhou-se
por diversas partes do país africano.
Relatou Robert R. Provine, professor de
Psicologia e autor do livro
Laughter: A Scien-
tific Investigation
(em tradução livre
Risada:
Uma Investigação Científica
), logo, outras
regiões da Tanzânia estavam sofrendo de
gargalhadas espalhadas pelas alunas do
internato.
As risadas foram parar em Nshamba ci-
dade natal de várias garotas.
Mais ou menos 200 dos 10 mil habitan-
tes – ou 2% da população – contraíram um
riso
incontrolável
,
torrencial
.
Imagine por um momento uma coisa des-
sas numa cidade como São Paulo que já está
chegando aos 12 milhões de habitantes.
Nesse caso, os 2% seriam nada menos
que 200 mil paulistanos
contraindo-se de
tanto rir
!
Pelos registros apresentados por Ro-
bert R. Previne, tratou-se de uma epidemia
eminentemente feminina
: começou com as
adolescentes das escolas, depois passou
para suas mães e, em seguida, a parentada
de saias (tias e primas) também riu muito.
Nenhum homem foi contaminado
!!!
A epidemia só entregou os pontos dois
anos depois, em junho de 1964 deixando
um saldo de 1.000 pessoas contaminadas.
E só foi possível debelá-las porque as
GARGALHADAS
CONTAGIOSAS
A risada, tudo indica, é uma
‘relíquia’
vocal dos tempos mais primitivos
que coexistiria com a fala humana.
Aprenda a rir bastante
como fez quando era
criança...
Rir faz bem para a saúde.
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C R I ÁT I C A
T U D O S O B R E E C O N O M I A C R I A T I V A
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