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Lembrou um seu ex-aluno, o arquiteto

Edgar Tafel: “Wright inicialmente desenhou

o 1

º

andar da casa e em seguida o 2

º

an-

dar. Depois as varandas e aí explicou o mo-

tivo da ponte onde Kaufmann e a esposa,

Liliane, sairiam dos quartos para fazer um

piquenique.”

Pouco depois chegou Kaufmann, recebi-

do com entusiasmo por Wright. “Que bom

revê-lo, Kaufmann. Estávamos mesmo o

aguardando!” Em cada um de seus deta-

lhes, a

Fallingwater

tinha sido desenhada

em menos de três horas. Seu projeto era

uma espécie de manifesto da “arquitetura

orgânica” de Wright, um estilo que a um só

tempo defendia o predomínio da técnica

sobre a natureza tanto quanto a comunhão

das pessoas com o meio ambiente. Mas,

ao projetar a casa, Wright tinha ultrapassa-

do seu próprio limite, impondo-se uma si-

tuação de extrema pressão emocional. Isso

era algo que ele se infligia desde a juventu-

de — e que voltaria a fazer repetidamente

até morrer.

De fato, o estilo de Frank Lloyd Wright

tornou-se inconfundível e paradoxal, como

o próprio arquiteto. Suas casas são, ao

mesmo tempo, monumentais e intimistas.

Apesar da grandeza da obra de Frank Lloyd

Wright, ela foi manchada pelas encrencas

em que o arquiteto se meteu em quase to-

dos os lugares por onde andou... Tal como

uma escultura, que depois de pronta origina

um amontoado de pedregulhos descartados

pelo artista, um prédio terminado também

deixa muito entulho de sobra

Meryle Secrest, a maior biógrafa de

Wright, contou: “É impossível olhar para

Wright sem se impressionar com a dimen-

são de seus feitos. No caso dele, estamos

diante de um gênio, alguém raro de ver na

vida real. Por outro lado, quando se conside-

ra o cidadão Wright, temos alguém à mercê

de suas emoções, apenas um ser humano.

Os mais chegados — a sua família, os ami-

gos e os colegas de trabalho — pagaram

caro para conviver com ele. Tinha uma am-

bição desmedida, além de permanente fal-

ta de habilidade para viver de acordo com

suas posses. Para começar, abandonou a

primeira mulher e os filhos sem o menor

escrúpulo. Profissionalmente, faturou de

forma indevida o crédito de um projeto feito

por seu mentor, Louis Sullivan. Muitas vezes

pediu dinheiro emprestado, mas raramente

honrou suas dívidas.”

Wright casou-se com Catherine (“Kitty”)

Tobin, uma bela garota sulista de 18 anos,

filha de uma próspera família sulista. Em

alguns anos de casados, eles teriam seis

filhos — quatro meninos e duas meninas.

Mas pouco antes de completar vinte anos

de casamento, Wright se tornou irremedia-

velmente irritadiço, numa época em que ele

e Kitty já viviam cada um de seu lado. Ele

odiava até mesmo ser chamado de “papai”

pelos filhos. Finalmente, em 1909, ele fugiu

para a Europa com Mamah Cheney, o gran-

de amor de sua vida, que era casada com

um amigo e cliente dele!?!?

Disse Wright na época: “Parti em bus-

ca do desconhecido, para testar minha fé

na liberdade, como já havia provado minha

fé no trabalho.” Em 1911, então com 44

anos, Wright, junto com Mamah – que obti-

vera seu divórcio - começou a construir no

interior do Estado de Wisconsin, no vilarejo

de Spring Green, a sua casa

Taliesin

(uma

palavra galesa que significa

“cume brilhan-

te”

), que se tornaria sua obra-prima pessoal

e seu quartel-general por quase meio sécu-

“Parti embusca do

desconhecido

, para testar

minha fé na liberdade,

como já havia provado

minha fé no trabalho.”

A casa

Fallingwater

,

em meio a um bosque,

que transformou-se em

referência mundial.

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J A N E I R O / F E V E R E I R O 2 0 1 6