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ARTES CÊNICAS

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C R I ÁT I C A

T U D O S O B R E E C O N O M I A C R I A T I V A

teatros, empresários e produtores, publica

semanalmente dados referentes a bilhete-

ria e público de todos os espetáculos em

cartaz. A mais renomada revista do mundo

sobre os mais variados temas políticos, so-

ciais e econômicos, a

The Economist

, ana-

lisou esses dados segundo algumas variá-

veis, como gênero da produção, tamanho do

elenco, recepção da crítica e popularidade

dos atores, a fim de calcular a

probabilidade

de que, numa dada semana, uma

produção

esgote os ingressos

!!!

Levando em conta o que se sabia so-

bre

Hamilton

quando o musical entrou em

cartaz, suas chances não

eram muito pro-

missoras

. Duas estratégias parecem rela-

tivamente confiáveis para o investidor que

queira triunfar na Broadway. Uma delas é

levar para o palco um filme de sucesso. É

o caso de

Rei Leão

, que está dando lucro

a seus produtores desde 1997. Em média,

os musicais baseados em filmes geram

US$ 145 mil a mais que as outras na sema-

na de estreia. Porém, não se pode esquecer

que

Hamilton

se baseia numa biografia de

um livro de 832 páginas!!!

Uma segunda estratégia certeira é in-

cluir no elenco uma estrela ou um astro do

cinema. Assim, em 2013, os ingressos para

a temporada de três meses de

Lucky Guy

,

com Tom Hanks, esgotaram-se rapidamen-

te. James Ulmer, um respeitado analista da

indústria do entretenimento, elaborou um ín-

dice que classifica os artistas de Hollywood

de acordo com sua “rentabilidade”. Usando

seus dados e fórmulas, é possível estimar o

potencial de retorno financeiro dos elencos

de cada um dos espetáculos da Broadway.

Assim, segundo ele, a presença de um ator

conhecido eleva de 0,29 para 0,59 a proba-

bilidade de que os ingressos para a primei-

ra semana de um espetáculo

se esgotem

!!!

Já com um astro de primeira grandeza, as

chances de se ter uma casa cheia chegam

a 0,92.

Porém, algo estranho ocorreu no caso

de

Hamilton

, pois no seu elenco não há

grandes estrelas. No entanto, foi produzido

por um

multiartista de sucesso

. O musical

do ator, compositor,

rapper

e escritor Lin-

-Manuel Miranda,

In the Heights

, conquistou

quatro Tony Awards e faturou mais de US$

100 milhões. Mas as chances de que rotei-

ristas e compositores repitam seus triunfos

pregressos não são significativas. Inclusive

os nomes que estiveram por trás dos maio-

res

hits

da Broadway têm dificuldades para

reeditar glórias passadas. Esse é o caso

de

Escola de Rock

, do famoso Andrew Lloyd

Webber, que estreou em dezembro de 2015

e em julho de 2016 se apresentava para

plateias com lotação pouco superior a 85%.

Bem, usando as recomendações de Ja-

mes Ulmer, o que se poderia dizer de

Ha-

milton

é que teria um

desempenho apenas

razoável

. Mas

Hamilton

foi uma grande e

lucrativa surpresa. E o retorno que tem ge-

rado só não é maior por conta do hábito do

meio teatral de não cobrar preços muito al-

tos, os quais ficam altos quando a demanda

é superior à oferta e entram em ação os

cambistas!!!

Em 9 de junho de 2016, para acabar

com a “farra dos cambistas”, Jeffrey Seller,

produtor do musical

Hamilton

, elevou o pre-

ço dos ingressos premium para US$ 849, e

passou a cobrar pouco menos de US$ 200

pela maioria dos lugares!!! Por incrível que

pareça, Hamilton rompeu pela primeira vez

a barreira dos US$ 2 milhões semanais.

Aliás, o produtor até calculou que o musical

poderia quintuplicar a receita proveniente

da bilheteria se cobrasse os preços que o

mercado tem efetivamente condição de pa-

gar. Tal atitude, sem dúvida, fortaleceria a

economia do setor teatral, assim como Ale-

xander Hamilton, que foi o primeiro secre-

tário do Tesouro norte-americano, ajudou a

solidificar o sistema financeiro país. Dessa

maneira, com o caminho para lucros mais

polpudos pavimentado, seria possível pro-

duzir um número maior de espetáculos, au-

mentando as chances de novos sucessos

hamiltonianos.

JOAN MARCUS

Hamilton

prendendo a atenção

dos espectadores durante toda

a apresentação.