ARQUITETURA
O
arquiteto japonês Sou Fujimoto ao
construir, em 2013, seu pavilhão
para a Serpentine Gallery, em Lon-
dres, tornou real o que ele chamou de
“pai-
sagem transparente”.
Essa estrutura vazada, de hastes metáli-
cas, construída na mata que rodeia o museu
londrino, alçou o arquiteto à condição de
vi-
sionário
, fazendo com que a crítica e o públi-
co começassem a observar as suas obras que
tentam, com plasticidade exuberante, fundir
arquitetura
e
natureza.
A raiz da obra de Fujimoto está bem plan-
tada em ideias dos anos 1960, a chamada
era
das megaestruturas na arquitetura.
O arquiteto húngaro Yona Friedman, que
é um nome de peso dessa escola utópica,
famoso por
imaginar
– e
nunca construir
–
enormes estruturas suspensas sobre cidades,
apresentou inclusive, em agosto de 2014,
uma mostra na Casa do Povo, em São Paulo.
Como escreveu o articulista Silas Martí
no seu artigo
Megaestruturas voltam a ser
tendência
(publicado em 19/8/2014 no jor-
nal
o Estado de S. Paulo
): “Juntos, Friedman
e Fujimoto representam épocas distintas
de um mesmo pensamento arquitetônico,
a ideia de estruturas que se multiplicam
enormemente, quase como células num
tecido orgânico, o que os japoneses cha-
mam de
arquitetura metabolista
.
Também sinalizam o retorno das me-
gaestruturas ao centro do debate arquite-
tônico atual como inspiração para soluções
em cidades travadas pelo trânsito e convul-
sionadas por ondas de revolta.
No Brasil, o arquiteto Sérgio Bernardes,
que faleceu em 2002, já imaginou algo assim
para o Rio de Janeiro, transformando-se em uma metrópole supersô-
nica, com bairros verticais com torres de 600 m.
De fato, parece que o experimentalismo voltou a reinar na arqui-
tetura; sendo Friedman uma figura destacada pelas suas ideias utó-
picas, as quais estão voltando a ficar na moda. Entre elas, está a con-
cepção de cidades mais maleáveis, que possam ser moldadas a cada
dia por seus habitantes.
Friedman afirmou: ‘Não são os prédios que importam numa cida-
de, mas como as pessoas usam o seu espaço urbano.
Quando Paris se candidatou para sediar os Jogos Olímpicos, sugeri
que usassem a avenida Champs-Elysées como estádio!?!? Devemos
pensar em como várias funções podem ocupar um só espaço.’
Aliás, nesse sentido, Friedman já imaginou cidade inteiras na for-
ma de
cubos móveis
suspensos sobre terrenos livres e casas em que
o teto e as paredes podemmudar de lugar.”
Benjamin Seroussi, o diretor da Casa do Povo, comentou: “Yona
Friedman é o arquiteto das utopias realizáveis. Qualquer um pode
criar arquiteturas. Ele não constrói, dá as ferramentas. Talvez por
habitar a esfera das preposições que não saem do papel, Friedman
tem sido enaltecido cada vez mais pelo circuito das artes visuais,
estando mais para
artista
do que para
arquiteto
.”
Na outra ponta do espectro, a obra de Fujimoto, embora an-
corado na extravagância conceitual de arquitetos como Friedman,
chama a atenção por existir muitas vezes como construção real e
não só num sonho de papel.
Sou Fujimoto deu uma palestra no dia 20/8/2014 no MASP
(Museu de Arte de São Paulo) quando declarou: “Realmente, Yona
Friedman é grandioso, repleto de visões do futuro, olho para mo-
dernistas como ele para tentar criar novos estilos de vida. Mas,
mesmo que a ideia pareça irreal, todos os meus projetos são con-
cebidos para fazer parte do mundo real. Tento enxergar um futuro
em que a geometria da natureza e a geometria artificial se en-
contram. Por sinal, a casa que vou contruir em São Paulo, dentro
de um condomínio que ocupa uma antiga fazenda na zona sul da
cidade, foi pensada como uma ‘floresta flutuante tridimensional’.
Não vai fugir de muitas outras obras que já construí, como a casa
em Tóquio com salas transparentes suspensas, com frutas em ga-
lhos de uma árvore ou o meu pavilhão no parque de Londres.”
ARQUITETOS
UTÓPICOS:
FUJIMOTO
E FRIEDMAN
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C R I ÁT I C A
T U D O S O B R E E C O N O M I A C R I A T I V A
Torre desenhada pelo
arquiteto Sou Fujimoto
(a direita), para
Montpellier (França).