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Todavia, nem todo esse “arsenal” de

dados que a tecnologia nos permite obter

(praticamente em tempo real) nos leva a

conclusões 100% corretas!?!? E quem há

pouco tempo demonstrou isso de forma

admirável foi o ex-analista de dados do

Google, Seth Stephens-Davidowitz em seu

livro

Everybody Lies: Big Data, New Data,

and what the Internet Can Tell us About

Who we Really Are

(algo como

Todo Mun-

do Mente: Big Data, Novos Tipos de Dados

e o que a Internet Pode nos Dizer sobre

Quem Realmente Somos).

Esse livro foi publicado no início de

maio de 2017, nos Estados Unidos da Amé-

rica (EUA), e apresenta ao (à) leitor (a) re-

tratos desconcertantes da moderna psique

humana. O fato é que, a partir da análise

de dados, embora algumas de suas desco-

bertas confirmem o senso comum, outras

o colocam de

“cabeça para baixo”

. Isso se

aplica, por exemplo, no caso relatado pelo

autor sobre o basquete norte-americano.

Segundo ele, são comuns nesse esporte as

histórias de jogadores que depois de terem

vivido em condições de extrema pobreza

na infância, acabaram acumulando gran-

des fortunas ao longo de sua carreira (para

isso, basta verificar a trajetória do extraor-

dinário jogador do Golden State Warriors,

Kevin Durant). Entretanto, os dados indi-

cam que, na realidade, uma infância pobre

reduz as chances de os garotos chegarem

ao basquete profissional, talvez pela ten-

dência de essas crianças mais necessitadas

não alcançarem a estatura necessária para

a prática profissional desse esporte (!?!?)

Há também resultados que, além de

surpreendentes, são perturbadores. Esse

é o caso, por exemplo, da prevalência de

buscas em

sites

pornográficos por vídeos

contendo práticas de violência sexual con-

tra mulheres. Além disso, e o mais inacre-

ditável nesse caso, é que essas buscas são

duas vezes mais frequentes entre as

pró-

prias mulheres

que entre os homens!!!

Há outras questões igualmente bizarras e

inquisitivas, tais como: por que, na Índia,

os homens adultos querem tanto ser ama-

mentados por suas mulheres?

De fato, as constatações empíricas

apresentadas no livro

Everybody Lies

são

tão intrigantes que tornam a sua leitura

bastante fascinante, mesmo que o (a) lei-

tor (a) se limite somente a registrá-las. Para

esse livro, aplica-se cada vez mais a seguin-

te conclusão: um livro é atraente quando

reúne os

3 Fs

, ou seja:

fatos

(ou fontes e

são citadas muitas...),

ficção

(talvez as in-

ferências tiradas das análises não sejam

realmente...) e

fantasia

(quem sabe aquela

sobre os maridos indianos...).

Porém, o mais importante do livro é

certamente a engenhosa tese proposta

por Stephens-Davidowitz, de que assim

como o microscópio e o telescópio trans-

formaram as ciências naturais, a Internet

irá

revolucionar as ciências sociais

. Assim,

a microeconomia, a sociologia, a ciência

política e a psicologia quantitativa depen-

dem atualmente, e em larga medida, da

realização de sondagens com a obtenção

de amostras de, no míni-

mo, alguns milhares de

entrevistados. Isso, entre-

tanto, é algo que demora,

tem custo elevado e mui-

tas vezes obtém respostas

que não são totalmente

verídicas...

Neste sentido, ao se re-

ferir à

big data

(centenas

de milhares de dados ou

até milhões), Stephens-

-Davidowitz

salientou:

“Esse grande conjunto de

dados possui

quatro virtu-

des singulares

. Em primei-

ro lugar, ele oferece no-

vas fontes de informação

(como no caso das buscas

pornográficas); em segun-

do lugar, retrata o que as

pessoas realmente fazem ou pensam, em

vez daquilo que elas optam por dizer aos

entrevistadores; em terceiro, permite que

os pesquisadores concentrem sua atenção

em subgrupos demográficos ou geográ-

ficos, estabelecendo comparações entre

eles; e, por último, possibilita a realização

ágil de estudos aleatórios controlados, ca-

pazes de apontar não apenas correlações,

mas também casualidades.

Dessa maneira os cientistas sociais não

O incrível livro

de Stephens-

Davidowitz.

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