Entendendo um pouco melhor o design
Uma primeira ideia bastante convencional é a de associar o design a uma habilidade estética. Mas nesses últimos 20 anos principalmente, o design adquiriu status de uma poderosa ferramenta competitiva.
O design não é o instrumento mais poderoso que os executivos das empresas dispõem, mas seguramente é o que cria as maiores e melhores oportunidades de negócios.
Na literatura sobre projetos, desenvolvimento de produtos e inovação, a palavra design refere-se a diversas coisas: arte criativa, fase do desenvolvimento de um produto, conjunto de características funcionais, qualidade estética, profissão etc. Entretanto, no vocabulário de um número cada vez mais crescente de empresas do mundo todo, essa palavra passou a significar a totalidade das atividades e das competências que recolhem todas as informações relevantes e as transformam em um novo produto ou serviço.
Em outras palavras, nos negócios, o design é entendido, cada vez mais, como uma atividade essencial que confere vantagem competitiva de duas maneiras: ao trazer à tona o significado emocional que produtos e serviços têm para os consumidores e ao captar o alto valor dessas ligações emocionais.
É essa evolução de conceitos que criou o que costumou-se chamar de “empresa focada no design”, um tipo de organização que promove o desenvolvimento de produtos centrada no cliente possibilitando a passagem rápida e eficaz do conhecimento íntimo dos desejos e necessidades desse cliente para ofertas de produtos e serviços de grande sucesso.
Muito se tem escrito sobre a capacidade do design de aumentar a produtividade, o desempenho dos produtos e o valor da ligação emocional com os clientes e pouco sobre a contribuição do design para uma maior compreensão global do consumidor.
Já nos setores econômicos que procuram aplicar as melhores práticas, o design está sendo visto como a arte e a ciência de conciliar diversas áreas, tais como: a técnica, a financeira, a operacional e a emocional.
Muitas organizações já dispõem de um alto grau de expertise nas três primeiras áreas e o que está as diferenciando agora são as que têm um foco mais intenso nas ligações emocionais com seus clientes.
Tais empresas contam com sólidas competências em tecnologia, operações, marketing, pesquisa e produção e suas ações são guiadas pela compreensão, por toda a organização, de quem são seus clientes e de que design lhes proporcionou a melhor experiência com seus produtos e serviços.
Como esse tipo de empresa compreende quem são seus clientes?
Certamente, não pelos métodos tradicionais de levantamento de dados sobre os clientes, como, por exemplo, os focus groups (grupo focais). Numa organização focada no design, a atividade primordial a ser executada é a pesquisa, isto é, a execução de um processo sistemático que leve à compreensão das necessidades e dos desejos não expressos pelos clientes, para, depois, criar e testar novas formas de atendê-los.
Uma eficaz pesquisa de design conta com métodos de coleta de dados que incluem técnicas etnográficas observando e registrando o que as pessoas fazem na vida real , personificação da marca (por exemplo, a associação que as pessoas fazem de um objeto com uma pessoa ou outro objeto) e com métodos de interpretação tão variados como o uso de quadro de avisos, mapeamento do fluxo de trabalho e a narração de histórias. Isso é o que se ensina agora a todos aqueles que querem se especializar em design, caso da famosa faculdade Bocconi, de Milão.
Um exemplo típico de descobertas cruciais as quais a pesquisa de design permitiu chegar foi o caso da montadora BMW. Ela descobriu há um bom tempo quês os motoristas de seus carros de alto desempenho não se estressavam porque dirigiam em alta velocidade, mas porque precisavam estacionar!!!
Para resolver o problema, a empresa integrou sensores de proximidade e um sinal acústico para facilitar a estacionamento (que depois quase todos os outros carros instalaram…). Curiosamente, a BMW, na época, chegou à conclusão de que um sistema totalmente automático mexeria demais com o orgulho dos condutores sobre as suas habilidades na direção. A empresa, assim, definiu qual ligação emocional deveria ressaltar e qual não deveria violar!!!

A Maserati Alfieri, que produz suspiros nos amantes de carros esportivos…
É verdade que em breve, com a fabricação de muitos carros autônomos, tanto ela como outras montadoras esquecerão desse detalhe e o foco será em outras vantagens, inclusive emocionais…
Observação importante – Quem deseja estar sempre a par dos trabalhos e descobertas dos mais importantes especialistas do mundo em design deveria ler a revista norte-americana Fast Company. Ficará também sabendo como os grandes estúdios de design ajudam as empresas a se tornarem competitivas em nível mundial, como aconteceu com a Samsung quando voltou seu foco para o design. Ou então lerá os relatos de casos como o da lendária empresa de design Pininfarina ajudou a montadora Maserati a achar o seu caminho de recuperação, lançando novos carros que foram saudados como sendo “uma escultura sobre rodas”. Ou ainda compreender como a família Kamprad conseguiu, com a sua empresa IKEA, revolucionar o mercado mundial de móveis, oferecendo preços acessíveis, qualidade, design e funcionalidade nos seus produtos.