O notável Alvar Aalto
O maior arquiteto da Finlândia foi Hugo Alvar Henrik Aalto (1898 -1976), ou simplesmente Alvar Aalto, que desenvolveu em 78 anos de vida uma variação do modernismo ao adicionar matizes da sua terra tão fria ao ideário funcional proposto por Le Corbusier, seu amigo suíço.
– Acima: Finlândia Hall, em Helsinki. Foto de Thermos.
Enquanto para Corbusier, ao menos durante a fase mais idealista do seu pensamento, a vida moderna se assemelhava a uma linha de montagem, e a casa, a uma máquina de morar, já Aalto acreditava em uma arquitetura feita à mão, uma escala sempre ajustada às necessidades dos usuários. Por isso, Aalto se propôs a realizar construções funcionais, mas não mecânicas, integradas aos lugares onde seriam erguidas, e levando em conta as atividades humanas que ocorressem ali.
Humanismo e organicidade foram as palavras essenciais em todo o seu trabalho. Utilizando materiais comuns, como vidro – para permitir a entrada de luz natural através de janelas amplas e claraboias em um país onde o sol não brilha por mais de seis horas diárias no decorrer de um inverno de quase oito meses – e madeira para criar ambientes mais aconchegantes e ao mesmo tempo promover um diálogo com o verde do entorno de seus prédios, Alvar Aalto acabou deixando uma impressionante herança de edificações, como o sanatório de Paimio, a Villa Mairea, em Noormarkka, os seus projetos funerários, nos quais procurou evidenciar o seu modo de pensar, ou seja, encarar a morte como parte integrante da existência humana, algo oposto ao que se vê nas igrejas, mais relacionadas a conceitos de vida e luz.
É o caso, por exemplo, da arquitetura da paisagem do cemitério de Malmi, para o qual Aalto desenhou um grupo de colunas abertas que direcionariam simbolicamente os olhos das pessoas para o céu (em alusão ao paraíso), mas que acabou não sendo realizado!?!?
A permanência das criações de Aalto pode se comprovada pelo fato de a biblioteca de Viipuri, uma de suas obras-primas que recebeu em junho de 2015, o Europa Nostra Awards, uma importante láurea da União Europeia concedida pela conservação do patrimônio. Ela foi inaugurada em 1935 na cidade de fronteira da Finlândia com a Rússia e a construção ilustra a originalidade do arquiteto com o uso de claraboias circulares na iluminação dos ambientes e com o famoso teto de madeira do auditório, cujas ondulações foram pensadas para favorecer a acústica.
Viipuri, então o seguindo maior centro urbano da Finlândia, foi anexado pela União Soviética em 1944, passando a se chamar Vyborg. A biblioteca sobreviveu com poucos danos à Segunda Guerra Mundial, porém em seguida entrou em um período de decadência: ficou anos abandonada e, mesmo reaberta em 1961, seguiu no seu processo de deterioração.Apenas a partir do início da década de 1990 é que um projeto de preservação foi elaborado e levado a cabo, em conjunto pelos governos russo e finlandês, uma empreitada que levou 20 anos (!?!?) e que custou € 9 milhões.
A obtenção recente do Europa Nostra Awards consagrou o restauro por ter trazido de volta o valor arquitetônico original da edificação. Hoje, a biblioteca é conhecida como Central City Alvar Aalto Library (Biblioteca Central Municipal Alvar Aalto). É com sentimento de tristeza que Alvar Aalto, quando a visitou disse: “A construção existe, mas a arquitetura se foi.”
Felizmente, graças à colaboração de dois países para a recuperação da biblioteca, pode-se afirmar: a arquitetura voltou!!!
Engenheiro, mestre em estatística, professor, autor de dezenas de livros, gestor educacional, palestrante e consultor. Editor chefe da Revista Criática.