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O pós-capitalismo, o cooperativismo e o “seu” Nico


Eudes de Freitas Aquino, presidente da Unimed do Brasil

Eudes de Freitas Aquino, presidente da Unimed do Brasil

Dizem alguns que a história se repete, claro que de forma evoluída e atualizada à época desses ressurgimentos episódicos.

Nada mais verdadeiro! Peter Drucker – o guru da administração – discorreu com maestria sobre o assunto. As grandes transformações na história ocidental ocorreram em intervalos de dois a três séculos.

Após acontecerem, seguem-se como necessários períodos de quatro a seis décadas até a completa adaptação e incorporação do “novo”, que é progressiva e variável em cada país, mercê de sua própria visão de mundo; estrutura político-social; patamar cultural; valores sociais básicos e capacidade absortiva de suas instituições mais importantes. Após esse tempo médio, tudo está tão mudado, tão diferente, que se torna muito difícil explicar e imaginar o mundo dos nossos antepassados próximos e recentes na ótica do atual. Geralmente, resumimos com palavras gastas, como progresso e/ou mudança, de forma simplista e inadequada, sem valorar e interpretar o conjunto de variações e o seu entrelaçamento, que em alguns momentos é previsível.

Não é o que acontece agora, quando estamos vivendo no século 21 e presenciando mais um desses ciclos, na assim chamada sociedade pós-capitalista, cujos avanços (o tempo de hoje é a metade da duração dessa transição, que deverá se concluir entre 2020 e 2025) já nos permitem analisar aspectos socioeconômicos e políticos da idade do capitalismo e do Estado – Nação, dos quais nos distanciamos com grande rapidez e desde pouco tempo atrás.

Algumas das clássicas doutrinas que nortearam e regularam as relações entre os povos, especialmente aquelas difundidas dos primórdios do século 18 até recentemente, como capitalismo; comunismo; marxismo; leninismo, maoísmo, liberalismo; trabalhismo, dentre tantas, paulatinamente perderam suas funções de realidades políticas e filosóficas dominantes para dar lugar à sociedade pós-capitalista, globalista e, por isso, universalizante.

Hoje, temos história e civilização ocidentais mundializadas convergindo para consolidar de forma irreversível um neofenômeno social, calcado na informação e no conhecimento, que proporciona relacionamentos incríveis. Basta lembrar que só no Facebook temos mais de 1,7 bilhão de usuários.

Atualmente, os tempos de implantação e consolidação são menores, o que não acontecia no passado. Na visão de Peter Drucker, nada que é pós é permanente ou tem vida longa. Portanto, este é só um período de transição. Mas, voltemos um pouco no tempo, pois isso é educativo.

A partir de 1450, Idade Média e Renascimento entraram em involução para dar lugar ao mundo moderno e alguns eventos e pessoas foram emblemáticos no painel de análise histórica: Copérnico e suas teorias (1510); Maquiavel e suas teses (1513); Michelangelo e sua arte (1508); e o Concílio de Trento (1540), que restabeleceu e resgatou a representatividade da Igreja Católica. Esses episódios e realidades, entre tantos outros, marcaram as transformações e adaptações que se seguiram.

No século 18, a Revolução Norte-Americana se impõe como marco de uma nova época de mudanças e, como determina o figurino da história, somente foi entendida e incorporada 50 a 60 anos depois, com a agregação de muitos avanços técnicos. Decorreu daí que o significado de novos conhecimentos foi sendo elucidado e utilizado para um caminhar progressista do que se chamou tecnologia, que desaguou na chamada civilização mundial de hoje, onde esses e outros novos conhecimentos, antes privados, tornaram-se públicos, incitando maior poder competitivo e político àqueles que os detenham em maior número e condições reais de aplicabilidade.

A destruição do marxismo como ideologia e a do comunismo como sistema social, após 150 anos de vigência, paradoxalmente causou a derrocada do capitalismo, tornando-o obsoleto, principalmente pela sua incapacidade crônica de resgatar a enorme dívida social gerada ao longo do mesmo número de anos em que se postou como alternativa de prática social e ideológica. Some-se a isso o seu enorme potencial para produzir conceitos de classes sociais, produzindo o plural bipolar dos “muitos ricos e dos muito pobres”.

O que esperamos deste efervescente caldeirão de mudanças? Impossível tudo prever! Mas algumas tendências são claras.

A sociedade que está se moldando ao final do processo é, seguramente, não socialista, mas pós-capitalista. Seu recurso básico é cada vez mais o conhecimento, o que implicará em uma maior organização e estratificação. O Estado-Nação, com reinado superior aos 400 anos, é agora um simples integrante dessa massa de remodelação mundial. Temos um pluralismo de posturas que coexistem como destaques, necessários à integração politica e econômica, o regionalismo ao lado de estruturas gigantescas, frutos de fusões e incorporações, transnacionais.

As fronteiras, tão somente, são linhas de velhos mapas e cartas náuticas (e aqui eu me lembrei do “seu” Nico…).

A linguagem tende a se unificar, ao menos nas relações comerciais.

O mercado continua como integrador efetivo e onipresente das relações econômicas e temos, ao menos, duas novas classes sociais, hoje já formadas e em franca expansão: trabalhadores do conhecimento e trabalhadores em serviços. É cada vez maior a diferença na pirâmide social mundial entre os detentores do capital intelectual e aqueles desprovidos de tal conjunto de recursos, conhecimentos e habilidades.

O diferencial controlador, o fator de produção, não está mais sendo representado por bens, quer sejam móveis ou imóveis, dinheiro, etc., e sim pelo capital intelectual em seus sentidos e abrangências plenos, o que envolverá, inclusive, a capacidade de praticar a criatividade, ferramenta genética esquecida pela acomodação de todos nas dezenas de anos de convivência e conluio oportuno, sobrevivente, com o capitalismo predador.

Essas mudanças, decerto, estão valorizando e requisitando, principalmente, maior produtividade e mais inovação, que nada mais são do que aplicações diretas do conhecimento ao trabalho. Teorias econômicas dos séculos 19 e 20, como a marxista, a clássica, a keynesiana e a pós-clássica, esvaíram-se no tempo e tornaram-se meros referenciais históricos dos tratados de economia. Vigoram cada vez mais, por serem pertinentes, novos valores e percepções estéticas, dicotomizando a sociedade pós-capitalista em intelectuais, que lidam com palavras, conceitos, ideias, e os executores, que cuidam de trabalho e pessoas, ao arrepio de qualquer teoria neoeconômica.

Existe uma busca renovada e salutar pelo íntimo, pela pessoa-indivíduo, num primeiro momento, mas que está redundando na união em torno de ideias e ideais, na procura da satisfação do criar e servir, mais e melhor a todos. É nesse viés último que o cooperativismo de trabalho certamente prosperará cada vez mais, se reconhecerá a si mesmo e se identificará como um dos “ismos” sobreviventes. Claro que continuará precisando de educação, doutrinamento e pregação permanentes para evoluir em velocidade real e se postar como destaque junto aos precursores desse processo.

Não se pode esquecer que o cooperativismo é um sistema econômico que faz das cooperativas a base de todas as atividades de produção e distribuição de riquezas. A Unimed está estruturada no cooperativismo. Ele é uma alternativa entre o capitalismo e o socialismo.

O cooperativismo de trabalho, pela sua essência prática e filosofia, já se consolidou como alternativa organizacional de trabalho à frente de seu tempo, ou seja, em condições pós-capitalistas, embora pareça, por ações várias, ter se perdido nos desvãos da história. Por possuir independência da tutela mercantilista, autogerenciar as ações de trabalho e ter atrativos e eficiência na expansão capilarizada, reúne condições estruturais e adequadas às exigências mercadológicas do amanhã.

Precisa, contudo, face à globalização, ser uma organização cada vez mais ágil; assumir comportamentos gerenciais modernos; ter a necessária postura proativa; ter em mente a consciência crítica e municiada de informações e direitos dos clientes; usar suas experiências e conhecimentos como um diferencial no mercado; manter uma coerência empresarial primando pela busca de valores inovadores agregados, que o distancie dos concorrentes, entre outras práticas. Educar e profissionalizar sua massa critica é a premissa vital!

Estamos, segundo o criador do Fórum Econômico Mundial, Klaus Schwab, vivendo, atualmente, a 4ª Revolução Industrial (título do seu livro), na qual, graças à evolução da tecnologia, surgiram muitos novos negócios semelhantes ao cooperativismo, baseados em compartilhamento e muita colaboração, que estão transformando o modo como vivemos, trabalhamos, nos relacionamos e também como somos, desenvolvendo uma nova identidade física e biológica. Disse Klaus Schwab: “Organizações como Airbnb, Uber, Alibaba, Kickstarter etc., estão provendo novas oportunidades de trabalho e transparência. Os clientes e consumidores podem ser servidos de forma mais individualizada, com o que ficam mais satisfeitos. Eles têm à sua disposição mais escolhas e podem ter acesso ao consumo de maneira mais barata. Sem dúvida, é uma radical mudança no padrão de consumo em direção a uma economia de fato compartilhada, na qual não devemos ser os únicos donos”.

E o “seu” Nico? Bem, Nicácio da Silva, brasileiro, 82 anos, negro, analfabeto e desdentado é uma sumidade de pensamento reflexivo. Nascido, criado e conduzido no seu microuniverso pelos patrões que se sucederam em uma mesma família, num latifúndio, me parece, em Monte Alto, no Estado de São Paulo, onde chegaram seus ancestrais em fins de século 19.

É um “faz tudo” à moda antiga. Hoje, alquebrado e caquético, e como todo “capiau”, sentado na soleira da porta da sua casa de colono prepara o seu “paieiro”, acocorado como convém a todo personagem lobatiano e faz autoindagações em um final de tarde chuvoso. Rememora tempos idos, até onde sua lembrança lhe permite alcançar.

Pois não nasceu ali onde tudo era mato e a casa sede era pequena? Pois não cresceu ali, onde o avô do avô do patrão atual lhe dera um pedaço de terra como meeiro, em retribuição à sua dedicação e à memória de seu pai, que morreu de malária e tísico? Pois ali não nascera seu único filho com sua companheira Judite (75 anos), o Nicácio Filho, hoje controlador do aparelho (computador) da imensa sede onde sabe os dias de vacinar, inseminar e apartar as vacas e os dias de plantar e pulverizar e colher sem olhar o tempo e o clima? Pois ali não nasceram os netos, Ingrid e Silvester, hoje adolescentes que falam a mesma linguagem moderna, tipo layout, fashion, entre outros? Pois ali não se assustara com a caixa que falava (rádio à válvula) e a outra caixa – a televisão – que trazia as pessoas para dentro de casa?

E o filho do filho do filho do primeiro senhor, hoje não chega à sede de avião? Entra naquela camioneta que tem uma imensa antena atrás, fala com todo mundo com um aparelho no ouvido e traz na pequena bolsa preta um aparelho pequeno parecido com o que Nicácio Filho usa? Pois hoje as mulheres não ficam peladas para qualquer um sem ninguém pedir?

Que Peter Drucker, que Aldous Huxley, em Admirável Mundo Novo, que Kubrick, que nada! “Seu” Nico, acendendo o “paieiro”, solta fumaça e a frase ao léu: esta, sucinta, descomprometida, direta, objetiva e de autor desconhecido, mas robusta em suas convicções pessoais porque fruto de observações de décadas de vida, demoradas, assuntadas, curtidas e sobretudo, inteligentes…
“O mundo veio sem purteira!”

É para onde já caminhamos! Avisamos a todos!?!?

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