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de corte e costura na marca e com a sua

imaginação começou a explorar novas fron-

teiras. Dessa maneira, a grife teve seu esti-

lo incrementado com muito

glamour

e uma

certa ironia.

Em 1996, foi sucedido na Givenchy por

Alexander McQueen, mas foi recrutado por

outra histórica

maison

do grupo LVMH a fun-

dada pelo inigualável Christian Dior. Ele en-

trou na Christian Dior no lugar de Gianfranco

Ferré e aí encontrou o lugar adequado para

a sua expressão artística. Sua criatividade

ficou ainda mais aguçada e a capacidade

de interpretação histórica alcançou o nível

de puro lirismo.

Em 1997, assinou a sua primeira cole-

ção de

haute couture

para a Dior, lançando

sua personalíssima versão do

new look

. A

partir de então, encadeou um triunfo após

outro, colocando em cena coleções de ex-

traordinária complexidade técnica, ricas em

virtuosismos. Esse foi o caso do seu desfile

de alta-costura da temporada outono/inver-

no de 2003, uma esplendorosa conjugação

de extravagância e arte que lhe permitia es-

tar à frente de todos os outros estilistas.

Galliano inspirou-se na dança, em todas as

suas variações: flamenco, tango, cancã,

jazz

e balé moderno. Armado o palco, acionada

a trilha sonora, colocou suas modelos dan-

çando na passarela enroladas em babados,

equilibrando saias de bailarinas de flamen-

co, tutus e meia arrastão. Diz a lenda que

sua mãe o ensinou a dançar flamenco em

cima da mesa da cozinha.

Ao comentar essa coleção, John Gallia-

no disse: “Não são roupas para dançar, são

roupas que dançam em volta do corpo!!!”.

“Mas será que eram roupas mesmo?”, per-

guntavam os neófitos no mundo da moda.

Eram sim!

Bastava analisá-las com atenção.

Por baixo de todo aquele espetáculo, dos

imensos babados estruturados como uma

escultura, dos sutiãs e corseletes renda-

dos em evidência por cima da roupa, das

peles extravagantes, estavam os vestidos,

as joias, os acessórios e até as simples

camisetas que fizeram as clientes cada vez

mais “loucas” por Dior em suas mais de

uma centena de butiques espalhadas pelo

mundo.

Galliano, o inglês extravagante e de tem-

peramento insuportável segundo alguns,

efetivamente vende muito bem tudo o que

cria. A prova disso foi que a Dior ganhou

muito dinheiro com ele, inclusive no mun-

do rarefeito da alta-costura. O final do idílio

com a Dior em 2011 coincidiu com alguns

problemas pessoais de Galliano, que foi

obrigado até a deixar a marca nas mãos de

Bill Gaytten, seu histórico colaborador. Mas

o outono de 2014 registrou a volta do esti-

lista à cena com o cargo de diretor da

mai-

son

Martin Margiela.

É difícil circunscrever as fontes de ins-

piração de John Galliano, pois elas foram

do teatro ao cinema e a etnografia. Suas

pesquisas não se limitaram às imagens,

pois ele enveredou pela história da peça in-

dividual, seu contexto cultural e social, atra-

vés de pesquisas de arquivo, muitas idas

a bibliotecas e visitas a museus. Galliano

acabou dessa maneira misturando sua fon-

tes criativas em um pastiche louco e rocam-

bolesco, no qual Cleópatra encontra Poca-

hontas e ambas decidem se vestir de Lolita,

mas disfarçando-se de Theda Bara.

Todas essas referências ganharam, nas

mãos de Galliano, uma elegante harmonia,

uma espécie de equilíbrio clássico que ser-

ve de fundo, de estrutura, de alma.

Observação importante

– Quem quiser

realmente aumentar bastante os seus co-

nhecimentos sobre moda deve adquirir e

ler a coleção lançada pelo jornal

Folha de S.

Paulo

,

Moda de A a Z

, que foi concluída em

dezembro de 2015, após a chegada às ban-

cas, cada semana, de um exemplar, num to-

tal de 18 semanas.

FASHIONSTOCK.COM / SHUTTERSTOCK.COM

Um desfile de John Galliano

(primavera 2016).

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