HUMBERTO OHANA/AGÊNCIA O DIA
ganizada e barulhenta na qual os diversos
setores funcionam em ritmo ininterrupto e
de forma independente.
Mas à medida que o Carnaval se apro-
xima, aí é que se notam incríveis colabo-
rações e associações quando quem está
construindo carros alegóricos pode ajudar
na confecção dos adereços e vice-versa, de-
pendendo do que está mais atrasado...
Nesses últimos anos, alguns setores fica-
ram ativos praticamente o ano inteiro, como
cozinha, almoxarifado, chapelaria, escultura,
costura, adereços e carpintaria, intensifican-
do as suas atividades nos dois meses que
antecedem o Carnaval. Diversos setores,
como, por exemplo, a iluminação e efeitos
especiais continuam a ser terceirizados.
A pessoa que ocupa o cargo de
carnavalesco(a) é o(a) grande responsável
pela
gestão da criatividade
numa escola
de samba. Cabe a essa pessoa elaborar
os croquis das fantasias, adereços e bone-
cos que vão enfeitar os carros alegóricos.
Os croquis, na realidade, são somente es-
boços, o que significa que uma boa dose
de criatividade fica a cargo dos operários,
frequentemente artesãos talentosos. Ou
seja, quem decide, no final, se uma escultu-
ra vai ser feita em isopor, madeira ou ferro
é o encarregado desse serviço e não o(a)
carnavalesco(a). Vale salientar ainda que os
esboços são distribuídos igualmente para
todos os responsáveis pelos setores. Assim
pode-se dividir entre todos o exercício de
criatividade iniciado pelo(a) carnavalesco(a).
As salas do presidente da escola, do ges-
tor, do carnavalesco(a) – uma figura importan-
te – são espaços em que o trânsito livre é
incentivado, ou seja, todo que trabalha no bar-
racão pode, entrar sem burocracia nas mes-
mas. Quem sabe mais passa seus conheci-
mentos para aquele que está aprendendo.
Depois dessa etapa, o chefe passa a
atuar como facilitador. É importante lembrar
que não há indicativos de
status
ou espaços
físicos privilegiados que permitam diferen-
ciar os chefes de seus subordinados.
Numa escola de samba são aceitos os
elementos contraditórios da cultura brasilei-
ra: a modernidade e a tradição, a especia-
lização e a versatilidade, o planejamento e
a criatividade, a racionalização e o desper-
dício, técnicas empresariais e relações pes-
soais. É exatamente essa flexibilidade que
lhe dá sentido.
Atualmente, os governos municipais aju-
dam as escolas de samba com recursos fi-
nanceiros e cabe aos presidentes das mes-
mas obter outros patrocínios para que elas
possam arcar com os seus gastos e espe-
cialmente com os salários de muita gente
envolvida com a preparação dos desfiles.
São esses desfiles, não só no Rio de
Janeiro, mas também em São Paulo, Salva-
dor, Recife e Fortaleza e outras capitais que
atraem muitos turistas e foliões nas ruas
– mais de uma dezena de milhões no total
– que permitem que
bilhões de reais
sejam
injetados nas suas economias durante a se-
mana que inclui os dias de Carnaval. Além
disso, mais 150 mil empregos diretos e indi-
retos são gerados nessa semana, nos quais
os empregados ganham o equivalente a dois
ou três meses de trabalho corriqueiro.
Apesar da crise econômica de 2016,
acredita-se que o total injetado pelo Carnaval
na economia do Rio de Janeiro, São Paulo,
Salvador e Recife chegou a R$ 4,6 bilhões.
Uma bela cifra, o que significa que deve-se in-
crementar mais ainda o apoio às escolas de
samba, aos blocos e aos trios elétricos, como
também ao Carnaval de rua, visto que o
en-
tretenimento
atrai muita gente para essas ci-
dades, que, com isso, incrementam os gastos
em hotéis, restaurantes, compra de roupas,
ingressos para acompanhar desfiles etc.
O Carnaval brasileiro é um excelente
exemplo das vantagens da
economia criativa
(EC)
!!!
O desfile da Estação Primeira de Mangueira,
campeã do Carnaval carioca em 2016.
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J A N E I R O / F E V E R E I R O 2 0 1 6