EDITORIAL
antes que ela tenha de ser transferida para um ser humano para
ser concluída. Portanto, a “
taxa de contenção
” indica os atendi-
mentos que ficam somente com a IA.
Atualmente a taxa de contenção da
7.aivaria de 20% a 50%,
mas a sua meta é chegar rapidamente a 80%. A medida que os
chatbots
forem evoluindo até serem capazes de atender bem a
maioria dos clientes, os seres humanos qualificados deverão ser
realocados para serviços mais complexos. A dúvida que fica é
“
quais serão esses serviços mais complexos?
”
Um fato que ninguém deve desconhecer é que a tecnologia ao
mesmo tempo que faz desaparecer empregos para os seres huma-
nos também possibilita que sejam feitos outros por eles de manei-
ra mais eficiente. Isso é o que já está ocorrendo na Índia, com a
instalação de uma nova rede de telefonia móvel de alta velocidade
chamada Jio, que aliás nos últimos dois anos permitiu que ocorres-
se uma drástica redução no preço da conectividade dos celulares.
De fato o que aconteceu na Índia foi a intensa difusão do
smar-
tphone
barato, conectando aqueles que ganham muito pouco por
dia e oferecendo-lhes um dispositivo que pode amenizar a pobre-
za em que vivem, ou até livrá-los dela. Neste sentido, uma empre-
sa indiana, a Lean Agri, usou a IA para criar um aplicativo (
app
)
simples para melhorar a produtividade dos agricultores indianos
de baixa renda. Esse
app
cria um “calendário dinâmico” que infor-
ma corretamente as quantidades de água, fertilizantes e sementes
que devem ser usados no plantio, baseando-se nas mudanças cli-
máticas. Mais de 15 mil agricultores em três Estados da Índia que
usavam esse
app
conseguiram triplicar suas receitas!!!
Já os catadores de lixo – os mais pobres estre os pobres nas
cidades indianas – foram treinados rapidamente no uso de um
software
que os auxilia a localizar e coletar as montanhas de lixo
que flutuam nos rios e lagos indianos, o que lhes permitiu em um
curto período de tempo recolher toneladas de lixo e assim ganhar
mais dinheiro com essa prática!!!
Portanto, não se deve considerar que está ocorrendo uma luta
entre a IA e a IH. Ao contrário, se tudo der certo haverá entre am-
bas uma
interação
que será positiva para os dois lados – como
nos exemplos indianos. Será uma boa oportunidade para os me-
nos qualificados subirem na vida. Será também uma possibilidade
de melhoria de padrão para todos aqueles menos favorecidos no
nosso País e em outras nações.
Muita gente acha que
transformação
digital
é usar computa-
dores para fazer o que fazíamos antigamente, com
métodos tradi-
cionais
.
Não! Não!! Não!!!
Transformação digital é algo que agora
se aplica a toda a economia. Em negócios isso é uma mudança
drástica na forma como se desenha (
design
), produz, entrega e
vende um produto ou serviço, como se constrói um ecossistema
em torno disso.
Por exemplo, hoje, todos os aviões do mundo são criados di-
gitalmente. São projetados em três dimensões (3D) e passam por
simulações e testes digitais antes de finalmente serem produzidos.
Assim, a digitalização permite chegar ao mundo real a partir de
uma versão virtual.
Ninguém mais faz um projeto virtual em 3D para depois fazer
uma maquete e utilizá-la como molde para
a produção. Hoje é o virtual que comanda.
Agora um operário munido de impressão
3D pode fazer uma simulação técnica sofis-
ticada que há anos só podia ser feita por
um time de engenheiros. Isso é interessan-
te, mas ao mesmo tempo bastante preo-
cupante para o engenheiro, que pode ser
trocado por um técnico, com o trabalho do
qual se reduzirá os custos de um projeto.
Isso indica complicações no futuro no
trabalho dos engenheiros, que vão ter que
entender mais do negócio, vão ter que ser
mais criativos, pois, do contrário, poderão
ficar desempregados... Vivemos agora sem
dúvida na era da IA, a mãe de todos os sal-
tos tecnológicos, que vem chegando nas
ondas cada vez mais rápidas da 5G. Trata-
-se de uma combinação perfeita entre um
substantivo indiscutivelmente positivo –
in-
teligência
– e um adjetivo quase sempre
encarado como negativo –
artificial
.
E de fato, toda tecnologia nova sempre
tem algo de negativo, dependendo de sua
aplicação. Por outro lado, há em relação ao
termo “
artificial
” uma óbvia intenção hu-
mana de demonstrar que a IH é superior
a IA. Aliás, isso segue a mesma linha de
raciocínio que já utilizamos para o termo
“
virtual
”, referindo-se ao mundo digital,
quando o mesmo já era uma parte imensa,
crescente e determinante do mundo real.
Da mesma forma como a realidade dita
virtual é cada vez mais parte da realidade,
a IA é cada vez mais parte das decisões in-
teligentes tomadas pelos seres humanos.
Note-se que é cada vez mais comum o uso
da IA na gestão de ações judiciais, ou seja,
os escritórios de advocacia utilizam atual-
mente plataformas tecnológicas que lhes
proporcionam uma análise de dados mais
detalhada que a oferecida pelos advogados
iniciantes. Assim, agora com o auxílio da IA,
é possível delinear o perfil de tribunais e
magistrados, mensurando, objetivamente,
as possibilidade de êxito das causas, con-
forme as teses e os entendimentos adota-
dos pela corte!?!?
Ninguém mais pode se iludir, pois os se-
res humanos estão sendo substituídos por
máquinas em diversos trabalhos manuais
ou artesanais e o mesmo está acontecendo
em trabalhos intelectuais!!! O ser humano
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C R I ÁT I C A
T U D O S O B R E E C O N O M I A C R I A T I V A