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J A N E I R O / F E V E R E I R O / M A R Ç O 2 0 1 9
Uma espécie de alta-costura para homens po-
derosos e ricos, a indústria relojoeira suíça está no-
vamente atravessando um momento dourado, no
qual um único relógio pode custar R$ 3,5 milhões,
sem taxas, como foi o caso de um exemplar da Jae-
ger Le-Coultre, com pulseira de couro de crocodilo,
acabamento em ouro branco, calendário perpétuo e
mecânica que minimiza o efeito da gravidade sob a
engrenagem, entre alguns outros detalhes.
A edição de 2019 do Salão Internacional de Alta-
-Relojoaria, realizado em janeiro de Genebra (na
Suíça), teve mais de 23 mil visitantes, que fiaram ad-
mirados com a
criatividade
exibida nos relógios, com
muitos detalhes (fases da lua, equações do tempo
solar, rubis, safiras etc.), que os tornaram muito cobi-
çados!!! Cerca de 95% dos relógios que custam mais
de R$ 5.000,00 cada são hoje produzidos na Suíça!!!
Naturalmente não são relógios de quartzo, movi-
dos a bateria, mas mecânicos automáticos, que fun-
cionam com uma engrenagem chamada movimento
ou
calibre
. Eles são compostos por centenas de pe-
quenas peças feitas à mão – alguns deles têm mais
de 700 – que formam um mecanismo a partir do tur-
bilhão, uma estrutura à base de uma mola, sua força
motriz.
As novas tendências nesse setor são os turbi-
lhões ou mostradores “esqueleto”, com engrena-
gens aparentes, que estão bastante em voga. Um
importante relançamento nesse salão foi realizado
pela Cartier, ou seja, do modelo do relógio de pulso
presenteado em 1904 por Louis Cartier (1875-1942)
ao famoso aviador brasileiro Alberto Santos Dumont
(1873-1932). Em sua primeira reedição esse relógio
de pulso terá peças de aço e ouro rosa; suas dimen-
sões serão as mesmas da peça original e ele contará
com uma pulseira de couro de jacaré. Tudo indica
que chegará ao Brasil no decorrer de 2019, e o mo-
delo mais barato – em aço – custará R$ 40 mil!!!
Para completar, é preciso descrever o momento
especial que se viveu recentemente em Cremona,
no norte da Itália, onde os moradores estiveram
envolvidos no movimento de manter
a cidade intei-
ra em sil
ê
ncio
. O próprio prefeito Gianluca Galim-
berti implorou que os cidadãos de Cremona evitas-
sem fazer barulhos súbitos e desnecessários.
Cremona abrigou (e abriga ainda) as oficinas de
alguns dos melhores fabricantes de instrumentos
musicais, entre os quais Antonio Giacomo Stradivari
(1644-1737), que nos séculos XVII e XVIII produziu
alguns dos melhores violinos e violoncelos de todos
os tempos.
A cidade iniciou um ambicioso projeto para gra-
var digitalmente os sons dos
Stradivarius
para a pos-
teridade, bem como os sons de instrumentos feitos
por Amati e Guarnieri del Gesù, dois outros famosos
artesãos de Cremona. Mas para isso seria preciso si-
lêncio absoluto.
Um violino, uma viola ou um violoncelo
Stradiva-
rius
representa o pináculo da engenharia sonora e
ninguém até hoje conseguiu reproduzir a sua tonali-
dade singular. Fausto Cacciatori, curador do Museu
do Violino de Cremona, e participante do projeto,
explicou: “Cada
Stradivarius
tem sua própria perso-
nalidade. Mas seus sons distintivos inevitavelmente
mudarão com passar do tempo e podem até ser per-
didos, dentro de algumas décadas.
É parte de seu ciclo de vida. Nós os preservamos
e restauramos, mas, depois que chegam a uma
certa idade, tornam-se frágeis para ser tocadas
e são ‘colocadas para dormir’ por assim dizer.”
Para que as gerações faturas não percam a
possibilidade de ouvir esses instrumentos, três
engenheiros de som sob a liderança do alemão
Thomas Koritke, produziram o Banco de Sons
Stradivarius
, ou seja, um banco de dados no
qual se armazenou todos os tons que quatro
instrumentos selecionados do museu foram
capazes de produzir.
O prefeito Gianluca Galimberti, que é
também o presidente da Fundação Stradi-
varius, organização municipal que opera o
Museu do Violino, estabeleceu o fecha-
mento do trânsito das ruas em torno da
instituição por cinco semanas, e apelou
para que todos os moradores mantives-
sem o silêncio enquanto a gravação esti-
vesse sendo feita. Assim, em 7 de janeiro
de 2019, o projeto foi iniciado. A polícia
bloqueou o trânsito. A ventilação e os
elevadores do museu foram deligados.
Todas as lâmpadas da sala de concerto foram remo-
vidas para eliminar qualquer ligeiro zumbido.
Alguns andares acima, no museu, o curador
Fausto Cacciatori colocou um par de luvas de ve-
ludo e removeu uma viola
Stradivarius
de 1715
de um
display
envidraçado, inspecionou-a e então
transportou-a dois andares abaixo até o auditório,
sob forte segurança, entregando-a ao violinista ho-
landês Win Janssen, que caminhou até o centro do
palco, e sentou-se numa cadeira sob um conjunto
de microfones.
Os três engenheiros deixaram a sala e se posicio-
naram numa cabine de som isolada sob o auditório,
repleta de alto-falantes, telas de computador, servi-
dores e cabos. “Comece”, sussurrou o engenheiro
de som. O violinista tocou uma escala de dó maior,
enquanto a equipe de gravação contemplava gráfi-
cos em suas telas, em resposta ao som cristalino
do instrumento. Assim ele está agora armazenado
e disponível para as futuras gerações.”
Um violino
Stradivarius
.