Table of Contents Table of Contents
Previous Page  26 / 42 Next Page
Information
Show Menu
Previous Page 26 / 42 Next Page
Page Background

Capa do disco

Refavela de

Gilberto Gil.

O

Refavela

faz parte da chamada tri-

logia de Gilberto Gil. Em 1975 ele

lançou

Refazenda

, com canções

de beleza atemporal e, em 1979, foi a vez

de

Realce

, no qual as bases afro-baianas-

-cariocas ganharam temperos mais

pop

, a

ponto de Gil “maltratar” um samba-canção

de Dorival Caymmi,

Marina

.

O

Refavela

surgiu em 1977, ou seja, qua-

tro décadas atrás, quando Gilberto Gil (na

época com 34 anos) foi convidado para se

apresentar no 2º Festac (Festival Mundial de

Arte e Cultura Negra), em Lagos, na Nigéria.

A sua participação nesse gigantesco

evento – que reuniu cerca de 50 mil artis-

tas africanos e da diáspora negra – marcou

bastante Gilberto Gil, servindo-lhe de ins-

piração para a criação, meses depois, do

disco que evoca suas raízes negras:

Refave-

la

. Esse termo traduz a fragilidade do “sal-

to que o preto tenta dar” por intermédio

dos conjuntos habitacionais, que, com o

tempo, se transformam em novas favelas,

levando à perpetuação da escravidão, seja

sob disfarces ou de maneira descarada.

Sendo uma situação atual, tudo isso

motivou Bem Gil – filho de Gilberto Gil – a

apresentar o espetáculo

Revafela 40

, que

começou pelo Rio de Janeiro (no início de

setembro) e depois seguir para São Paulo,

Salvador, Belo Horizonte e Porto Alegre.

Em relação ao modo como chegou ao

Refavela

, Gilberto Gil recordou: “Na ver-

dade, só me interessei pela dimensão ne-

gra na cultura e na vida brasileira quando

visitei um terreiro de candomblé na ilha

Itaparica. Foi aí que me veio um

sentimen-

to de pertencimento

, então compus

Babá

Alapal

á

,

que posteriormente faria parte do

Refavela

. Então, em 1997, quando cheguei

a Lagos para o festival, depois do contato

com aquela força da cultura negra, esse

meu sentimento se consolidou. Tive muita

vontade de remexer em mim mesmo essa

questão.

O

Refazenda

vendeu cerca de 60 mil

discos, o

Refavela,

uns 80 mil, e alcancei

sucesso com o

Realce

, que chegou a 300

mil. A crítica em geral não era unânime em

relação a nada que eu e meus colegas fa-

zíamos. Sentia-se uma certa aversão – ou

talvez birra – natural por parte do sistema,

dos jornalistas e críticos de um lado, e de

muitos artistas do outro. Houve um certo

questionamento geral em relação àque-

la maneira de encarar a música brasileira.

Talvez fossem resquícios da velha questão

tropicalista, do receio das inovações

versus

o conservadorismo.”

O certo é que 40 anos depois do lança-

mento do

Refavela

muitas coisas mudaram

no Brasil e no mundo com relação aos direi-

tos humanos de pessoas de todas as raças.

Apesar de toda a evolução tecnológica, as

pessoas hoje adoram as experiências, as

apresentações ao vivo – o que, aliás, provo-

cou uma grande queda na compra de dis-

cos, mas não do hábito de ouvir músicas...

Tudo indica que bem mais de 60 mil pes-

soas irão se encantar com o

show Refavela

40

, organizado por Bem Gil para exaltar o

trabalho do pai, e que conta com a partici-

pação de Céu, Moreno Veloso e Maíra Frei-

tas, além do próprio Gilberto Gil.

A CELEBRAÇÃO DO

REFAVELA

, UMDOSMELHORES

DISCOS DE

GILBERTO GIL

O talentoso Gilberto Gil no seu

show Refavela.

MÚSICA

26

C R I ÁT I C A

T U D O S O B R E E C O N O M I A C R I A T I V A