SAÚDE
ciados a várias características do excesso
de peso. Foram localizados, inclusive, genes
relacionados aos locais onde a gordura vai
se acumular e à regulação do apetite.
Esse trabalho mostrou claramente que a
predisposição à obesidade não é resultado
de um único gene.
Sobre a
eficácia
das dietas baseadas
nos testes genéticos hoje disponíveis, po-
rém, a
ciência ainda não tem uma resposta
definitiva
.
Existem, entretanto muitos estudos que
apontam numa direção promissora, como o
do italiano Nicola Pirastu, da Universidade
de Trieste, na Itália.
Ele analisou a resposta de 191 obesos
submetidos a um teste que examinou 21
genes envolvidos em funções que iam da
velocidade do metabolismo à reação à in-
gestão de açúcar e de lipídios.
Cada um dos participantes teve uma die-
ta desenhada especialmente segundo suas
características.
Seu peso foi monitorado por dois anos
e comparado a um grupo controle, que fez
uma dieta comum de restrição calórica.
No final, os que fizeram o perfil genético
perderam 33% a mais de peso do que os
integrantes do grupo controle.
Eles também ganharam mais músculos:
cerca de 6% mais massa magra do que os
demais voluntários.
Disse Nicola Pirastu: “As conclusões fo-
ram muito animadoras.
São um bom começo para aprofundar-
mos as investigações sobre o tema.”
Um outro estudo com potencial anima-
dor, foi coordenado pelo pesquisador Ah-
med El-Sohemy, professor do Departamento
de Ciências da Nutrição da Universidade de
Toronto, no Canadá.
Nele acompanhou-se durante um ano a
evolução de 138 pessoas, parte delas sub-
metida a testes genéticos.
Particularmente, foi avaliado de que for-
ma o organismo reagia ao consumo de ca-
feína, sódio, vitamina C e açúcar.
Comentou o prof. Ahmed El-Sohemy:
“Constatamos que as pessoas que foram
informadas a respeito de quais seriam suas
reações à ingestão dos ingredientes modifi-
caram sua dieta.
Por exemplo, aqueles que ficaram saben-
do que carregavam genes associados à in-
gestão de sódio e maior risco para hiperten-
são arterial reduziram a ingestão de sódio.
Porém, uma das principais críticas ao
uso dos testes genéticos para a formulação
de um regime alimentar neste momento é o
fato de as evidências científicas a seu favor
ainda não serem embasadas por um núme-
ro significativo de estudos.
Até agora, as informações sobre o DNA
não são claras o suficiente para fazer reco-
mendações bem consolidadas.
Não existem obviamente dados de longo
prazo de indivíduos que modificaram a dieta
em decorrência do teste e tiveram benefício
comprovado após alguns anos...
Por outro lado não se pode esquecer a
complexidade da obesidade, ou seja, não é
possível definir uma dieta com base apenas
na análise do DNA pois ela é uma doença
multifatorial. A grande maioria dos obesos
tem uma associação de várias mutações,
combinada a fatores externos ambientais.
Mas para o pesquisador italiano Nicola
Pirastu: “É uma questão de tempo para que
os testes e a dieta do DNA modifiquem a
forma como se trata a obesidade.
Isso acontecerá no futuro, quando tiver-
mos mais informações.
Quando falamos de excesso de peso, fa-
lamos sobre um sintoma de algo que não
estamos verdadeiramente tratando.
Com as diversas dietas, estamos tratan-
do algo sem conhecer sua causa.
Para um paciente pode ser um problema
de fome, ele não consegue parar de comer.
Outro pode ser
‘dependente’
de açúcar
e de gordura.
No entanto, eles são tratados do mes-
mo jeito: restrição calórica e alimentação
saudável.
Entretanto, na realidade precisariam ser
cuidados de forma diferente. E os testes
ajudarão nisso, a conhecer melhor cada pa-
ciente.”
Até agora, as informações sobre o
DNA
não são claras o suficiente
para fazer recomendações bem
consolidadas.
SAÚDE
O
glúten
é uma proteína existente no
interior dos grãos. Resulta de uma
mistura de proteínas menores como
a gliadina e a glutemina contida no interior
de certos grãos.
Nas plantas, cumpre a função de guardar
nitrogênio e carbono para a germinação das
sementes. Não tem calorias ou função im-
portante no organismo. A sua vantagem é ter
se tornado imprescindível na panificação.
Por suas características, acrescenta vis-
cosidade e elasticidade às massas e pães.
E ele permite que a massa se estique e
cresça quando a fermentação a enche de
bolhas de ar.
Deixar de consumi-lo significa riscar do
prato sua principal fonte,
o trigo
, e outros
cereais em que também está presente em
menor quantidade, como a cevada, o cen-
teio, o malte e a aveia.
Em sua substituição, a orientação é usar
outras fontes de carboidratos, como a fari-
nha de mandioca, arroz e tubérculos como
o inhame.
Os defensores da exclusão argumentam,
em primeiro lugar, que com isso seriam eli-
minados eventuais desconfortos provoca-
dos pela substância.
Realmente o glúten é uma proteína gran-
de e de difícil digestão.
Ele altera a bioquímica do intestino, pode
levar à diarreia e constipação e prejudica a
absorção de nutrientes.
Pesquisas provam que o
nível de infla-
mação do organismo
– que é maior nos
obesos e se eleva por reação ao glúten e à
lactose – aumenta a predisposição à mani-
festação de problemas cardiovasculares e
de doenças autoimunes, entre elas a diabe-
tes tipo 1.
Ao se tirar o glúten, isso equivale a remo-
ver um fardo do metabolismo, que passa a
trabalhar mais rapidamente.
Há porém um grupo de especialistas,
entre os quais os endocrinologistas que di-
zem: “As únicas pes-
soas para quem a
retirada do glúten é
recomendada são os
celíacos, mas eles
são apenas 1% da
população. A doença
celíaca é uma doen-
ça autoimune.
Realmente
na
presença
dessa
enfermidade, a pro-
teína do glúten pro-
voca uma resposta
que leva à inflama-
ção nas paredes do
intestino delgado,
causando diarreia e
cólicas abdominais.
Também pode pro-
vocar reações alérgi-
cas e até choque.
De fato, essa é a
única doença conclu-
sivamente relaciona-
da à substância e
sua retirada total evita as complicações.
Um dos argumentos que embalam a
onda glúten-
free
é a afirmação de que há
indivíduos que
não teriam a doença celíaca
ou alergia ao trigo (neste caso, o corpo pro-
duz anticorpos específicos contra o glúten),
mas uma sensibilidade à proteína.
A sensibilidade ao glúten é uma condição
mais recentemente identificada que imita
muitos dos sintomas da doença celíaca, mas
é menos grave e não causa dano intestinal.
As pesquisas, no meio científico, em re-
lação à tal
sensibilidade ao glúten
têm le-
vado à uma certa controvérsia, como foi o
caso de uma recente executada por Peter
Gibson, que concluiu que a mesma existe,
mas o responsável pelo desconforto não
seria o glúten, mas um tipo específico de
carboidrato com FODMAPs!?!?
A GUERRA
DO
GLÚTEN!!!
A sensibilidade ao
glúten é uma condição
mais recentemente
identificada que imita
muitos dos sintomas da
doença celíaca, mas
é
menos grave e não causa
dano intestinal.
O excelente artigo sobre o efeito do glúten
na saúde, publicado na revista
Isto é
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C R I ÁT I C A
T U D O S O B R E E C O N O M I A C R I A T I V A
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