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STORYTELLING

H

á algum tempo a DVS Editora me con-

vidou a escrever sobre o tema Story-

telling. Publicamos o livro

5 Lições de

Storytelling: Fatos, Ficção e Fantasia,

hoje já

em segunda edição. Não só nos meios ar-

tísticos, mas vai da festinha de aniversário

de cinco anos da Daisy, filha do amigo Jeff

(pai solteiro) à mesa diretora de grandes

empresas; do Brasil ao Japão, escuta-se

“istoritélim” ou “sutoritelinugu” (Storytel-

ling) e a sala cai em silêncio; todos querem

saber mais do que se trata e por que se fala

tanto disto. Vou me concentrar, neste arti-

go, na festinha em questão, que aconteceu

aqui na Inglaterra – de onde escrevo –, num

fim de semana de Julho.

Eu falava sobre a segunda edição do

meu livro e a “audiência” no jardim ouvia

em silêncio – até os mais jovens, pois a

palavra STORY em inglês tem um apelo e

tanto –, até que chegasse a “hora do bolo”,

dos balões, da comilança – o ápice da fes-

ta. Normalmente, nesse momento, para os

arranjos finais, levamos as crianças para

dentro de casa, ou mandamos que fechem

os olhos, o que quase nunca obedecem, e

a surpresa do bolo e do que mais tragamos

ao jardim corre o risco de sair pelo ralo.

– Vamos entrar, meninada – pediu Jeff.

Nem a meninada, nem a “adultada” se

manifestou.

– Vamos...

Recentemente sofri um acidente de

carro que me impede correr atrás de crian-

ças, mais ainda, de adultos. Como é verão

aqui no Hemisfério Norte, pisquei o olho

para o Jeff e decidi resolver o caso não

pela força da garganta, subornando-os

com os comes e bebes que estavam “por

vir” se fossem para dentro de casa por

alguns instantes (inglês é movido a sol,

se houver sol eles não arredam o pé até

virem as primeiras nuvens). E as parcas

nuvens no céu, mais o poder do Storyte-

lling, salvaram a festa!

Deitei-me na relva com a meninada, de-

pois convidei os adultos, e apontei para

o céu, para as nuvens, e “avisei” ao Jeff

que ficaríamos no chão por uns quinze mi-

nutos. Rezei para que ele pegasse a dica

para trazer o bolo, balões e o restante da

parafernália enquanto eu distraía o pes-

soal.

Comecei com o que os meus autores

chamam de “as minhas bobagens”: estó-

rias absurdas que invento só para chamar

a atenção para algum ponto. Neste caso,

queria que se esquecessem do que o po-

bre Jeff estava fazendo por perto deles

no jardim e me “ajudassem” a admirar as

nuvens.

Espreitei para garantir que estavam

todos deitados, olhando o céu, e lasquei

uma estorinha ritmada, inventada na hora,

cheia de aliterações e poliptótons (vejam

no Google do que se trata), se essas téc-

nicas de dizer bobagens funcionaram para

Shakespeare, por que não funcionariam

para mim?

– Look! There’s a rhino, there’s a hippo,

and a super eight-winged bat! There’s a lion,

and a monkey in a giant bowler hat! There’s

a castle with a dragon, and the knight

who’s come to slay! There’s an octopus with

shoes on, and he’s holding a bouquet!

(Ve-

jam! Tem um rinoceronte, um hipopótamo

e um morcego de oito asas. Tem um leão

e um macaco usando enorme chapéu de

mágico. Tem um castelo com um dragão,

mais o cavalheiro que veio para matá-lo!

Tem um polvo com sapatos nos tentáculos

e está segurando um buquê!)

– Oh... – em uníssono.

E cada um, sem dúvida, “via” algumas

das cenas e vomitavam estórias. Cada vez

mais estórias. Quem não conseguia ver o

dragão pedia ajuda e as estórias, agora

criadas por um conjunto de cabeças, se

multiplicavam mais depressa do que nas

melhores salas de Storytelling para Ma-

rketing e Propaganda que eu já tinha visto

na vida.

– Fim das estórias – gritou Jeff.

Mas não precisava ter gritado, nem que

fosse um homem-bomba e tivesse puxado

a cordinha e se autodetonado, o grito dele

havia caído na surdez geral.

– Fim das estórias – repetia. – Agora

temos bolo! Balões, serpentinas e confe-

tes para animar a festa...

O macaco com o chapéu de mágico

ERA a festa, mas eu já ouvia crianças dis-

cutindo porque o polvo só não usava sapa-

tos na “mão” que segurava o buquê. Uma

voz adulta feminina jurava que naquele

tentáculo tinha visto dedos...

Ergui-me e fui resgatar o Jeff da situa-

ção, a meu ver, já embaraçosa.

– Ei, gente! – bati palmas que no meu

estado nem devia bater. – Olha o bolo que

o Jeff preparou para a Daisy.

– Depois – disse Daisy.

– Depois ... – não foi bem um “depois”

em uníssono, mas ninguém se levantava

do chão.

Eu e Jeff nos autodetonamos puxando

a cordinha do “parabéns para você...”,

mas cantamos sozinhos.

Quanto a gente tem estórias – leia-se

“Storytelling”–, não há bolo, não há balão,

não há prazer maior do que as boas (ou

até as más!) estórias.

No “Storytelling para fes-

tinhas de crianças de cinco

anos” acertei em cheio. Ou

acertei DEMAIS?

Por que a estorinha, ou

essa sequência de palavras

(em inglês) que formou

um tipo de estória meio

que do “País das Mara-

vilhas”, embora sem

sentido, funcionou?

Porque,

para

aquele ambiente,

naquele exato mo-

mento, foi a estória

certa, aliterações,

poliptótons e tudo

mais! Quanto ao

meu jeito de contar,

claro, deixo que vo-

cês e Shakespeare

julguem. Porém, ter-

mino com a pergun-

ta que sempre me

fazem aqueles que

tentam usar estórias

de qualquer maneira

só porque “está na

moda”:

– Qual a diferença

entre “uma estória” e

“a estória certa”?

– A diferença entre

“uma estória” e “a es-

tória certa” é mesma que entre “a minha

filha quase engravidou há nove meses”

e “a minha filha engravidou há nove me-

ses”. A boa estória dá frutos!

“Estórias” são naturais a todos nós.

Embora, cá entre mim e você, se o meu

genro e a minha filha não souberem como

se faz, ela não engravidará jamais!

O caso é que, usar estórias com um

propósito definido para gerar os prover-

biais frutos: influência, encantamento,

vendas etc., tornando as nuvens de uma

tarde de verão mais apetitosas do que o

bolo da Daisy e os gritos histéricos de um

pai solteiro, requer um tiquinho de esforço

e técnica. Por ora, a recomendo a leitura

de

5 Lições de Storytelling: Fatos, Ficção e

Fantasia

. Em breve, terminarei o segundo

livro da série:

5 Lições de Storytelling: Per-

suasão, Negociação e Vendas

. Quem não

viu “aliterações e poliptóton” no Google,

não se apoquente. Haverá capítulos intei-

ros sobre o assunto no próximo livro e nos

meus próximos artigos! Aguarde!

O PODER DO

STORYTELLING

:

A PROVA QUE FALTAVA

JAMES MCSILL

Um dos consultores literários mais bem-

sucedidos do mundo, reconhecido no Brasil e na

Inglaterra e elogiado pelo seu vasto trabalho

na América Latina, América do Norte e Europa.

James McSill tem mais de trinta anos de

experiência na arte de conduzir autores a uma

“estória viável para publicação”. Fundador e

diretor executivo da McSill Ltd. Assessoramento

Literário (Londres); mentor da McSill Agency

(São Paulo) e executivo-chefe do Storytelling/

Transmedia Studio (York), James sempre foi um

pioneiro na indústria do livro.

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C R I ÁT I C A

T U D O S O B R E E C O N O M I A C R I A T I V A

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