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Embora os agricultores em sua maioria
sejam hindus, que
veneram a vaca
como
mãe altruísta, gentil e sagrada, eles não se
importavam muito com o que era feito dos
touros...
Mas houve uma terrível mudança quan-
do o partido nacionalista hindu Bharatiya Ja-
nata (BJP) ganhou as eleições em outubro
de 2014, o Estado que inclui a cidade de
Mumbai, pois em março de 2015, ele apro-
vou uma emenda que estava parada havia
muito tempo, ou seja, a Lei de Preservação
Ambiental de Maharashtra.
Agora a norma proíbe o abate da
“prole
de vacas”
e criminaliza a venda ou até mes-
mo a posse da carne bovina, que pode ser
punida com até cinco anos de prisão. Essa
lei está impedindo a venda de gado e carne
bovina, fonte de subsistência de mais de 1
milhão de moradores de Maharashtra de to-
das a religiões.
As pessoas de fora da Índia podem se
surpreender com a simples existência de
um setor de venda de carne bovina nessa
nação na qual 80% do 1,25 bilhão de seus
habitantes se dizem hindus e um terço prati-
ca algum tipo de vegetarianismo, com o que
o índice indiano de
consumo de carne é o
mais baixo do mundo
!!!
Porém, a Índia também possui o maior
“estoque bovino” do mundo, com mais de
310 milhões de cabeças de gado, incluindo
os búfalos. Por sinal, a carne de búfalo é o
produto de exportação agrícola mais valio-
so do país
.
Muçulmanos,
dalits
(a casta infeiror),
cristãos e alguns outros hindus consomem
carne bovina. Antes da promulgação da lei;
era comum encontrar em Mumbai barracas
vendendo espetinhos de carne e restauran-
tes que serviam bifes ou cozidos de carne.
Antes da proibição, em muitos mercados
de gado fervilhavam os negociantes com-
prando (e vendendo) touros.
Essa instituição da lei da proibição do
consumo da carne bovina foi terrível para
a comunidade
qureshi
de Maharashtra, que
tem centenas de milhares de integrantes.
No intrincado sistema indiano de castas,
os qureshi, que são muçulmanos, consti-
tuem o principal grupo responsável pelo
abate do gado, sendo aqueles que traba-
lham em matadouros, nos quais, antes da
proibição, 80% dos animais eram touros e
os outros 20% eram búfalos.
Estima-se que cerca de 500 mil pes-
soas, a maioria qureshis, perderam seus
empregos com a proibição da venda da car-
ne bovina no estado de Maharashtra.
Sem dúvida, o BJP aprovou essa lei
como uma maneira de punir os muçulmanos
e, com isso, afetou milhões de agricultores
hindus para os quais a venda dos touros era
uma fonte crucial de renda. Deve-se ressal-
tar que essa proibição entrou em vigor num
momento em que o ritmo da vida na zona
rural de Maharashtra passa por mudanças
sutis que estão tornando os touros menos
necessários. Isso porque os tratores estão
ficando mais acessíveis, e muitos agriculto-
res estão conseguindo comprar tratores ou
então os alugam, o que lhes custa menos
que alimentar os touros o tempo todo. Em
média, gasta-se US$ 100 por mês para ali-
mentar um touro e é preciso pagar alguém
para cuidar dele.
Mas os agricultores estão revoltados e
pode ocorrer a qualquer momento um protes-
to com muitos milhares de agricultores soltan-
do os seus touros velhos diante da sede do
governo para que fiquem depois perambulan-
do pelas ruas como se fossem cachorros.
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A Índia tambémpossui omaior
“estoque bovino” domundo, com
mais de
310milhões de cabeças
de gado
, incluindo os búfalos.
Um agricultor indiano que vive da plantação
de soja no Estado de Maharashtra.
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S E T E M B R O / O U T U B R O 2 0 1 5