J U L H O / A G O S T O / S E T E M B R O 2 0 1 7
ARQUITETURA
O
Brasil deve se orgulhar de ter entre
os integrantes do júri do Pritzker –
premiação mais importante no âm-
bito da
arquitetura
– o embaixador e eco-
nomista André Correa do Lago, que, aliás, é
o primeiro brasileiro a fazer parte dele.
Ele é um crítico ferrenho da nossa arqui-
tetura, e destaca entre os vários problemas
a lei de licitações, que, segundo ele, “só
pensa no valor da construção, ignorando o
custo futuro de um projeto ruim”.
Neste sentido, André Correa do Lago
destacou: “A boa arquitetura pode ser cara,
barata ou ter um custo médio. O inaceitá-
vel é que a arquitetura péssima também
pode ser cara ou barata!?!?
Não é incompatível produzir boa ar-
quitetura, mesmo em tempos de crise. As
cidades melhoram graças aos bons arqui-
tetos – que infelizmente são a minoria nos
dias atuais –, pois, somente eles são capa-
zes de contrabalançar o que propõem os
maus profissionais – que, por sua vez, exis-
tem em grande número.
Por exemplo, numa cidade faz muita
diferença a disponibilização de boas
cal-
çadas
, ou seja, aquelas bem cuidadas. Nas
ruas, à noite, a iluminação pública não de-
veria ser a branca, mas a
amarela
, que é
quente e mais econômica.
Também são necessárias muitas árvores
nas cidades brasileiras, especialmente nos
bairros mais modestos. Lamentavelmente,
ruas arborizadas são comuns apenas nos
bairros onde vivem os mais ricos. Além
disso, as calçadas precisam de árvores que
façam sombra, mas nós temos a mania de
plantar palmeiras. Estas, entretanto, não
fazem sombra e cumprem apenas uma fun-
ção estética.
No que diz respeito ao uso do calçadão,
no meu modo de entender isso é um erro,
pois mata a vida da rua.
Essa ideia vem de um urba-
nismo que acredita na se-
torização da vida: esta rua
é só de comércio, aquela
outra é só residencial...
Essa é de fato uma boa
ideia para durante o dia, mas desestimula a habitação no local.
A rua se torna inviável para quem, por exemplo, chega carregado
de compras, para os que vêm de táxi, assim como para os mais
idosos, os que têm mobilidade reduzida ou receiam pela própria
segurança. O centro das nossas grandes cidades – como o de São
Paulo, por exemplo – é um lugar maravilhoso para se morar, mas
ninguém quer viver sozinho...
Também há o problema da falta de respeito aos edifícios histó-
ricos. De fato, nós os tornamos muito feios na medida em que ar-
ruinamos suas fachadas com aparelhos de ar condicionados pen-
durados no lado de fora, quando estes poderiam estar instalados
internamente.
E voltando à questão de segurança, um elemento essencial
para a vida nas cidades é a diminuição da violência dentro delas. A
partir do momento em que uma cidade é considerada segura, tor-
na-se possível incentivar a vida de rua em qualquer lugar dentro
dela. Neste caso, não se teria nenhum bairro considerado ‘
ruim’
.
Por exemplo, na Grande Tóquio, uma região na qual vivem cer-
ca de 38 milhões de japoneses, não se fala de áreas em que nin-
guém queira morar. Quando se tem segurança e um transporte
público maravilhoso, as pessoas escolhem a moradia pela proximi-
dade com o seu trabalho, com o local que estudam, com o lugar
onde vivem seus amigos e parentes, com os parques etc.
Tóquio é uma cidade com pouquíssimas restrições. Edifícios co-
merciais, restaurantes e edifícios residenciais aparecem mistura-
dos. Pode-se caminhar de dia e de noite pelas ruas em segurança,
e crianças de seis anos vão sozinhas para as escolas. Como a maio-
ria das pessoas vive em apartamentos pequenos – com cerca de
40 m
2
– sempre que podem elas vão para as ruas...
É vital, portanto, que os nossos arquitetos não permitam que
as cidades brasileiras sejam cada vez mais feias em comparação
àquelas onde prevalece uma
arquitetura de qualidade
.”
E você, caro(o) leitor(a) da
Criática
, concorda (ou não) com o
fato de que em nossas cidades nós estamos muito atrasados na
luta contra a construção dessas aberrações?
FALTA
BOA ARQUITETURA
EMNOSSAS CIDADES
André Correa do Lago, que tem opinões
bem sinceras sobre o que está errado nas
nossas cidades.