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J A N E I R O / F E V E R E I R O / M A R Ç O 2 0 1 9
tada e dirigida por Fábio Rangel,
Piaf, Vida de
uma Estrela da Canção
, que estreou em 1983
e ficou em cartaz por sete temporadas.
Porém, foi de ser a protagonista do mu-
sical
Gota d’Água
em 1975, adaptado por
Chico Buarque e Paulo Pontes, que na épo-
ca era seu marido (ela teve oito ao longo da
vida) que Bibi Ferreira sempre se recordou
com mais carinho, ao ponto de considerar
esse texto como “
a maior obra da dramatur-
gia nacional
” (lembrando que
Gota d’Água
é
uma adaptação da tragédia
Medeia
para a co-
munidade carioca).
Nos seus últimos cinco anos Bibi Ferreira
fez apenas três apresentações em Nova York,
cantando canções famosas, de cantores como
Frank Sinatra, e sempre com o teatro lotado.
A última vez que pisou no palco profissional-
mente foi em dezembro de 2017, no teatro Oi
Casa Grande, no Rio de Janeiro, quando gra-
vou um especial para a TV Brasil, intitulado
Por Toda a Minha Vida
. Em setembro de 2018
anunciou sua aposentadoria dos palcos.
Bibi Ferreira foi uma grande defensora do
teatro como profissão
, porém, sempre sa-
lientou que para ter sucesso nesse trabalho
era necessário muita dedicação e técnica. Ela
se orgulhava de sua voz, algo que lhe permitia
ser ouvida em todo o teatro e semmicrofone,
mesmo nas maiores casas.
Na realidade, os espetáculos que mais
marcaram sua vitoriosa trajetória foram to-
dos musicais. É mesmo notável uma artista
desenvolver uma carreira por tantas décadas,
não é? Mas Bibi sempre disse que o segredo
de sua saúde foi a vida regrada que levou.
Não fumava, nem bebia. Em cena, exibiu boa
parte do tempo um perfil conhecido: óculos
escuros, braços levantados, físico ligeiramen-
te atarracado e voz característica.
Se a artista se consolidou e era imediata-
mente reconhecida pelo público, a mulher
Abigail era reservada e tinha poucos amigos
mais íntimos que conviveram com ela e real-
mente conheciam suas outras qualidades e
manias. Foi uma mulher boêmia, que preferia
desfrutar a vida de noite e de madrugada.
Geralmente acordava por volta das 15 h,
quando tomava um simples desjejum: café
com leite e pão com manteiga. Isso, entre-
tanto, não significa que seu apetite fosse con-
trolado. Ao contrário, adorava comer feijoada
de madrugada; amava coxinhas e era uma
assídua frequentadora de lanchonetes como
McDonald’s (sua preferida). Mas havia tam-
bém a Bibi suave, que gostava de tomar chá
no
hall
do hotel em que se hospedava, ou no
salão de algum
shopping center
luxuoso.
E Bibi não era fã de exercícios físicos. Sua
preguiça, aliás, vinha da infância, quando pro-
curava fugir de todas as movimentações que
era obrigada a fazer pela sua mãe. Já adulta
e independente, gostava de ficar acomoda-
da no sofá de sua casa, onde assistia durante
horas e com imenso prazer a antigos progra-
mas de balé. Desculpava-se, dizendo ter uma
coluna encrencada, o que limi-
tava seus movimentos. Isso em
parte era verdade, e Bibi só se
sentava em cadeiras ou poltro-
nas que fossem previamente
preparadas com almofadas que
a deixassem confortável.
Como não dirigia, era sem-
pre conduzida por alguém no
carro, e aí nunca ia no banco
de trás, dizendo: “Isso é para as
esposas”. Assim, ela sempre se
acomodava no banco ao lado
do condutor e se apoiava na
alça localizada acima do vidro.
No velório, a também can-
tora e única filha de Bibi Fer-
reira, Teresa Cristina, destacou:
“O grande amor de sua vida foi,
sem dúvida, o
público
para o
qual ela se apresentou!!!”
No velório, a
também cantora
e única filha de
Bibi Ferreira,
Teresa Cristina,
destacou:
“
O grande amor
de sua vida
foi,
semdúvida, o
público
para
o qual ela se
apresentou!!!”
O Brasil perdeu seguramente a sua maior artista nas artes cênicas:
Bibi Ferreira (1922-2019).