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FOTOGRAFIA

As duas publicações na

National Geographic

.

C

entenas de fotógrafos já se tornaram

emblemáticos ou já impressionaram

a todos pela imagem apresentada.

Esse é o caso da foto da menina Sharbat,

que foi capa da revista National Geographic

em junho de 1985.

Agora, vale a pena, com tanta gente

procurando fugir dos sérios problemas em

seus países, casos da Síria, Iraque, Sudão,

Líbia etc., recordar o efeito de uma foto de

uma menina afegã (e o Afeganistão conti-

nua até hoje em tumulto...) de olhos verdes,

dona de uma beleza tão extraordinária que

apareceu com cabelos desgranhados e um

xale rasgado.

Em um artigo na revista Veja

(20/3/2002), a artista Anna Paula Buchalla

escreveu: “A imagem quase bíblica dessa

menina, feita em 1984, em um campo de

refugiados no Paquistão, correu o mundo

como síntese do sofrimento de um país an-

tiquíssimo, devastado por uma guerra que

lhe estava matando a esperança – na épo-

ca, contra o invasor soviético, instalado no

Afeganistão desde 1979. O encontro entre

a menina e o fotógrafo Steve McCurry foi

breve e uma vez tirada a foto, ela sumiu em

meio à multidão andrajosa, sem nem mes-

mo revelar seu nome. Mas em janeiro de

2002, com o Afeganistão novamente nas

manchetes, McCurry voltou ao país com a

missão de achá-la. Sua busca começou no

mesmo campo de refugiados que visitara

em 1984. Cerca de dois meses depois, ele

finalmente se viu frente a frente com Shar-

bat Gula, que se tornou uma mulher preco-

cemente envelhecida.”

Aliás, Sharbat Gula voltou a ser capa da

National Geographic na edição de abril de

2002, só que desta vez escondida sob uma

burca e segurando a revista de 1984. A cha-

mada da revista é: "Encontrada: dezessete

anos depois, a história de uma refugiada

afegã."

Nota-se em 2002 que Sharbat perdeu

toda a sua juventude, uma vez que seu rosto

já estava crivado de rugas. Sua vida foi bem

difícil, pois ficou órfã de pai e mãe quando

tinha cerca de 6 anos, durante um bombar-

deio soviético que riscou do mapa o vilarejo

em que morava. Aí, ela e seus quatro irmãos

foram levados pela avó ao Paquistão. Mas

para chegarem ao país vizinho, caminharam

uma semana inteira, afligidos por tempesta-

des de neve. Estima-se que Sharbat viveu

mais de dez anos num campo de refugiados

e nos meados de 1990 voltou ao Afeganis-

tão, governado pelo Talibã, quando se se ca-

sou com um homem que trabalhava numa

padaria da cidade paquistanesa de Pesha-

war, bem próxima à fronteira afegã, onde

recebia o equivalente a um dólar por dia!?!?

Steve McCurry encontrou Sharbat, ago-

ra mãe de três filhas (ela teve uma quar-

ta criança que morreu precocemente) e

notou que elea não fiocu convencida com

a repercussão causada pela sua foto em

1985, aliás, ficou até envergonhada ao ver

os rasgos no xale, causados por fagulhas

da fogueira em que

cozinhava. Em 2002,

para ser fotografada,

precisou pedir per-

missão ao marido. A

direção da National

Geographic subme-

teu as duas imagens

a um legista do FBI, a

polícia federal norte-

-americana, e ao in-

glês John Daugman, o

inventor do método de

identificação pela íris.

Após confirmada pe-

los dois que se trata-

va da mesma pessoa,

resolveu publicar a

reportagem e a segun-

da foto dela para que

as pessoas do mundo

notassem a incrível

metamorfose.

O

OLHAR

PENETRANTE

Uma foto de Sharbat

Gula de 2002, com

uma grande alteração

em relação à menina

de 1985, não é?

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