humor, particularmente se ele for dirigido
contra o governo. Esse é o caso da China,
que recentemente declarou
guerra ao hu-
mor
. A principal vítima foi a empresa de
tecnologia Bytedance, cujos aplicativos
(
apps
) permitiam que os mais de 700 mi-
lhões de usuários acessassem notícias, ví-
deos engraçados e memes, todos selecio-
nados segundo as preferências individuais
do freguês.
A Bytedance, que chegou a ser avalia-
da em mais de US$ 20 bilhões, se tornou
desde o início de abril de 2018 um alvo
dos censores chineses, que suspenderam
por três semanas o principal serviço de
notícias da empresa e baniram seu
app
de
compartilhamento de piadas.
Apesar dos gracejos patrocinados pela
Bytedance não terem como alvo nem o
sistema nem o Partido Comunista – parece
que sob a direção de Xi Jinping o governo
chinês está caminhando para um endure-
cimento ainda maior –, a empresa preferiu
não arriscar, pois acredita que
a combina-
ção de política com humor seja potencial-
mente explosiva
.
É justamente por isso os regimes auto-
ritários têm todos os motivos do mundo
para querer erradicar o humor. Foi o filóso-
fo francês Henri Bergson (1855-1941) que
em seu livro
O Riso
observou o seguinte: “É
o
medo
de que os outros riam de nós que
faz com que reprimamos nossas excentrici-
dades e nos conformemos docilmente com
as normas sociais.”
O problema é que o humor também
pode ser
profundamente subversivo
. Tan-
to que as piadas que se contavam sobre as
agruras do socialismo nos países do leste
europeu foram decisivas para a derrocada
dos regimes comunistas, pois permitiram
que as pessoas revelassem umas às outras
suas desconfianças em relação ao sistema,
sem, entretanto, expor-se em demasia.
O fato é que, ao catalisar e sincronizar
desconfianças que os indivíduos temem
confessar até para si próprios, o
riso co-
letivo
tornou-se uma das mais eficientes
armas contra a
tirania
. Dessa maneira, o
governo chinês tem razão em temê-lo. No
Brasil muitos humoristas valem-se de atri-
buir “apelidos criativos” para as figuras
públicas que desejam ridicularizar. Muitos
nem têm graça alguma, e até revelam cer-
to preconceito e/ou se baseiam em humor
negro. Mas o povo não perde a piada, e
comenta: “Ah, que maldade!”, mas passa
o apelido adiante... Isso porque o espírito
da coisa é mais forte do que os bons sen-
timentos.
Alguns apelidos são até pitorescos e
descritivos, como é o caso de “Maria Tom-
ba Homem” (de uma mulher de rua que
batia nos homens); “Tarzã dos Bueiros”
(de um ladrão que se escondia nos esgo-
tos); “Mão de Onça” (de um goleiro com as
mãos enormes); “Fi do Pé” (o filho de um
beberrão folclórico) etc.
Outros, entretanto, são bastante de-
preciativos ou até mesmo cruéis, como é o
caso de “Perna de Pau” (para alguém que
tenha uma perna amputada ou que jogue
muito mal). Infelizmente o Brasil tornou-se
um País dos apelidos, e o destaque mais re-
cente é a famosa lista dos políticos que
foram corrompidos por uma grande em-
presa (e imediatamente reconhecidos).
Na ocasião, muita gente entristecida riu
com as maldades que fizeram contra a
nossa Nação!?!?
Observação importante
: Caro (a)
leitor (a), caso queira se aprofundar
mais sobre o riso e o humor, leia o li-
vro
Ha! Ha! Ha! – O Bom, O Ruim e o
Interessante do Humor
(Editora DVS),
escrito por Victor Mirshawka.
GREGÓRIO DUVIVIER. FOTO: WIKIMEDIA COMMONS
O humorista Gregório
Duvivier.
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