O neutrino é a segunda partícula mais
abundante do Universo, perdendo só para o
fóton, as partículas de luz. A cada segundo,
trilhões de neutrinos cruzam nossos cor-
pos!?!?
Isso faz dos neutrinos candidatos a
constituintes da matéria escura, que repre-
senta 85% da matéria do Universo e intera-
ge gravitacionalmente com os objetos visí-
veis, mas que ninguém sabe o que é.
Não se deve confundir a partícula com
o nêutron, presente no núcleo dos átomos.
O neutrino que chega à Terra vem principal-
mente de reações nucleares no Sol, apesar
de que também surja em usinas atômicas e
até dentro do corpo humano, pela atividade
radioativa do potássio.
A descoberta começou com um proble-
ma: as teorias previam que uma determina-
da quantidade de neutrinos deveria chegar
à Terra a partir do Sol, entretanto os
detec-
tores só recebiam um terço do valor!?!
Quem estaria roubando os neutrinos no
caminho?
A resposta surgiu quando se percebeu
que há três tipos de neutrino. Os físicos
chamam os diferentes modelos de “sabo-
res”. São eles: o neutrino do elétron, do
múon e do tau.
O Sol produz só o neutrino do elétron, e
era esse “sabor” específico que os detec-
tores estavam procurando, porém em vão...
A sacada foi imaginar que talvez, no ca-
minho, os neutrinos do elétron estivessem
se transformando em outros tipos de neutri-
no, não sendo enxergados pelos detectores.
Tal ideia era um tanto ousada. Segundo os
postulados da física, tal transformação de
sabores só pode acontecer se os neutrinos
tiverem massa, o que ainda não era aceito.
Quando Kajita e McDonald provaram, por
meio de detectores no Japão – o Super-Ka-
miokande, a mil metros abaixo da superfí-
cie, em uma antiga mina de zinco a 250 km
de Tóquio – e no Canadá – no Observatório
de Neutrinos de Sudbury –, que estavam
recebendo neutrinos de diversos sabores,
ficou demonstrado também que a partícula
tem massa.
Não se sabe ainda qual é a massa exata
do neutrino. É provável que um dia alguém
vá ganhar um Nobel ao determinar isso!!!
Todo ano, o leigo acaba um pouco frus-
trado pela limitada capacidade que os não
físicos têm de entender as descobertas pre-
miadas com o Nobel. Não há como não se
desolar, pois para, de fato, compreender a
importância do neutrino é necessário enten-
der as equações da mecânica quântica que
assustou físicos renomados como Richard
Feynman (Nobel de Física de 1965).
O avanço da física foi tamanho, que ela
se descolou da intuição. Nosso cérebro
realmente não está preparado para pensar
em partículas muito pequenas ou nas imen-
sidões da cosmologia. A grande maioria das
pessoas não evoluiu para isso...
↘
Economia –
O economista britânico
Angus Deaton, professor da Universi-
dade de Princeton, nos EUA, foi agraciado
com o prêmio em 2015 pelo seu trabalho
pioneiro
sobre o que determina a
pobreza
e
como as pessoas tomam decisões sobre o
consumo.
No seu traba-
lho, Angus Deaton
empregou técnicas
estatísticas inova-
doras para a com-
preensão do que
motiva as pessoas
nos seus hábitos
de consumo e como
os governos podem
melhorar o seu es-
tímulo ao desenvol-
vimento econômico.
Ele se valeu do uso
de dados macroeco-
nômicos mais preci-
sos para entender
o que ocorre numa
economia como um
todo, questionando
hipóteses conhecidas e ajudando a resolver
paradoxos aparentes na relação entre
con-
sumo
e a
renda.
O economista John Muellbauer, da Universi-
dade de Oxford (Ingalterra), que já trabalhou
com Deaton, explicou: “Os cientistas frequen-
temente torcem o nariz para o Nobel de Eco-
nomia por
não considerá-lo científico!?!?
Mas o trabalho de Deaton é uma exce-
ção, pois se trata de economia do mais alto
nível, baseado em evidências.”
Aí vão as três ideias relevantes de Angus
Deaton.
No que se refere à
desigualdade
, ele
concorda que ela é importante; entretanto,
O vencedor do Nobel
de Economia, Angus
Deaton.
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