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J U L H O / A G O S T O / S E T E M B R O 2 0 1 8
dos muito ruins, especialmente na década
de 1980, quando foram lançados os sinteti-
zadores. Isso fez com que a empresa pedis-
se concordata em 1986. Mas ela continuou
vendendo suas guitarras com o seu timbre
dos anjos, uma hipnotizante qualidade de
som. A guitarra até pode deixar de ser um
símbolo para as novas gerações, entretan-
to, jamais vai deixar de existir!”
O mercado brasileiro de instrumentos
musicais, em especial os de corda e elé-
tricos (como guitarras e contrabaixos), é
atualmente dominado pelas importações.
Ou seja, 90% dos itens comercializados no
Brasil vêm de fora. Segundo dados da As-
sociação Nacional da Indústria da Música,
nos últimos cinco anos, por conta da crise
econômica e da alta do dólar houve uma
queda de 80% nas importações desses ins-
trumentos.
Todavia, isso também criou uma grande
oportunidade de negócios para empreen-
dedores que sabem fabricar, consertar,
manter e personalizar sob medida diversos
instrumentos musicais. Em outras palavras,
o ambiente se tornou mais propício para as
chamadas
luterias
!!!
É na luteria que se tem o
luthier
, o pro-
fissional que desenha, constrói e conser-
ta instrumentos de cordas, como violões,
violinos, contrabaixos, guitarras etc. Lucas
Caracik,
luthier
e criador da marca Caracik
Guitars, explicou: “Formei-me arquiteto
pela Faculdade de Arquitetura e Urbanismo
da Universidade de São Paulo e ainda no 2º
ano de meu curso iniciei também minha
história como
luthier
, fazendo meu primei-
ro curso nessa área.
Em 2012 abri a minha primeira oficina
em São Paulo e desde então procurei me
especializar cada vez mais, estudando com
luthiers
de fora do Estado e, inclusive, com
um dos principais nomes internacionais, o
luthier
norte-americano Robert O’Brien.
Além de trabalhar com o conserto e a
manutenção, também passei a desenvolver
meus próprios desenhos e instrumentos.
Faço parte de uma mudança de paradigma,
na qual as pessoas estão se voltando para
o
pequeno
e para uma
comunidade arte-
sanal
. Nos instrumentos que fabrico incluo
detalhes que os feitos numa fábrica não
podem oferecer. Aliás, raramente um vio-
linista clássico compra um violão pronto...
As espetaculares
guitarras Gibson
expostas numa loja em
Roma, na Itália.
Só os
luthiers
é que podem agregar mais
valor a um instrumento. Já temos cerca de
uns 700
luthiers
no mercado brasileiro, mas
estou colaborando para que esse número
cresça, pois estou oferecendo cursos para
formar novos profissionais.”
Vale também destacar o sucesso recen-
te que obteve Renato Beolchi, que em 2017
abriu a Mayor Tone Guitars e uma marca
do seu trabalho criativo bem-sucedido foi
a construção de guitarras no modelo
cigar
box
, feitas a partir de uma caixa de charutos.
Uma escola que forma
luthiers
em São
Paulo é a Bh Lutheria, que funciona há mais
de 20 anos e na qual havia no 2º semestre
de 2018 cerca de 180 alunos divididos em
cursos básicos, de afinação e consertos, e em
cursos mais complexos como a fabricação de
violões, pedais para guitarras eletrônicas etc.
Ressalte-se que desde 2009, na Univer-
sidade Federal do Paraná, foi criado um es-
paço para o ensino da luteria. Com duração
mínima de seis semestres e máxima de dez
semestres, o curso é oferecido em tempo
integral. Os alunos têm como disciplinas
desde história da arte e identidade musical
regional e da América Latina até os módu-
los práticos, como construção e entalhe.
Como é, caro (a) leitor (a), o que você
acha da ideia de se tornar um
luthier
para
atuar com desenvoltura num dos impor-
tantes setores da economia criativa (EC):
a
música
!!!
Fabio Pagani / Shutterstock.com