O combate a fake news e a publicidade fake
Em 9 de agosto de 2018 o advogado e jornalista João Luiz Faria Netto assumiu a presidência do Conselho Nacional de Autorregulação Publicitária (Conar), num momento em que se tornou crescente a atenção dedicada pela entidade aos desvios na publicidade on-line.
Segundo um levantamento recentemente divulgado pelo Grupo de Políticas Públicas para o Acesso à Informação, da Universidade de São Paulo (USP), cerca de 12 milhões de pessoas no País difundem notícias falsas (fake news). Esse dado é o resultado de um trabalho de monitoramento de cerca de 500 páginas digitais com conteúdo político falso ou distorcido, realizado em junho de 2018.
Caso seja considerada a média de 200 seguidores por usuário, o alcance das fake News, com muitas sobras, é de toda a população brasileira!!! As notícias falsas (ou pós-verdades) são criadas na maioria absoluta das vezes para a obtenção de lucro. Quanto mais visualizações do seu site, mais cliques e mais ganhos. Estes podem variar de milhares até milhões de reais (ou dólares). Por exemplo, o negócio do Facebook se baseia em três premissas: manter os usuários grudados na tela, coletar dados sobre o comportamento das pessoas e convencer anunciantes a pagar milhares, milhões ou bilhões de dólares para atingir esses usuários com os seus anúncios!!!
O Facebook foi abalado em 2018 por vários escândalos, o primeiro deles no 2º trimestre de 2018 quando o próprio presidente executivo da empresa, Mark Zuckerberg, revelou que os dados de 87 milhões de usuários tiveram um uso ilícito!?!? Isso resultou do questionário desenvolvido pelo acadêmico britânico Aleksandr Kogan, em 2014, que obteve mais de 270 mil respostas. Esses participantes tinham aproximadamente 87 milhões de “amigos”, e os dados de todo esse contingente de usuários foram vendidos à empresa de inteligência Cambridge Analytica!?!
Vendo-se frente a essa “fogueira da insatisfação” e diante de tantas pessoas irritadas que viram seus dados divulgados sem prévia autorização, Mark Zuckerberg tentou justificar-se e esclarecer de vez a situação, porém, acabou por complicar-se ainda mais, ao afirmar: “Infelizmente, os dados compartilhados publicamente pela maioria dos quase 2,2 bilhões de usuários da nossa rede social também foram coletados indevidamente por terceiros. Faremos de tudo a partir de agora para que isso nunca mais se repita!!!”
Há quem pense que as fake news são mais compartilhadas que as notícias verdadeiras, mas o que se pode afirmar é que, da mesma forma como as legítimas, as notícias falsas são compartilhadas proporcionalmente ao seu grau de sensacionalismo!!! Naturalmente, se existir uma motivação financeira forte, pode-se ter um mecanismo de divulgação mais agressivo ainda. Em setembro de 2017, o próprio Facebook deu uma explicação “parcial” para justificar que as fake news haviam influenciado um pouco o resultado das eleições nos EUA com mensagens enviadas por russos, dizendo que organizações russas gastaram apenas US$ 100 mil para comprar 3 mil anúncios em sua plataforma. O Facebook só deixou de ressaltar que cerca de 150 milhões de usuários leram os posts gratuitos dos operadores russos!?!?
Vive-se numa época em que não é nada fácil para as pessoas captarem a diferença entre as notícias falsas e verdadeiras. Assim, caro(a) leitor(a), como você reagiria frente às seguintes notícias que circulassem nas redes sociais?
- Cebolas fatiadas podem evitar gripes e outras doenças, atraindo vírus e bactérias!?!?
- Farinha ajuda a tratar queimaduras!?!?
- Brasileiros estão comendo ovos artificiais, importados da China!?!?
- Importante hospital desenvolveu uma vacina contra o câncer de pele e dos rins!?!?
- Tossir e respirar fundo podem ajudar durante um ataque cardíaco!?!?
- Hospital não aceita córneas por falta de receptores!?!?
Pois bem, para todas as incríveis mensagens citadas há pouco – e que “confundiram” muita gente nas redes sociais – a resposta categórica é: “Não!!!” Para conseguir identificar se uma notícia é verdadeira ou falsa, deve-se verificar se há em sua teia de compartilhamentos um número significativo de fontes com credibilidade e/ou usuários com perfil autêntico, no sentindo de zelo com relação à veracidade do que compartilham!!!
Durante a campanha eleitoral, em setembro de 2016, sem dúvida o aplicativo mais conveniente e utilizado para a divulgação de fake news foi o WhatsApp, que oferece uma ótima blindagem jurídica. Não há ninguém para ser intimado, uma vez que não se pode atribuir os boatos a uma pessoa específica. Cientes disso, partidos políticos, agências de marketing eleitoral, grupos militantes e profissionais contratados unicamente para criticar e difamar seus adversários fizeram a festa. Toda notícia relevante – como, por exemplo, o atentado a um dos candidatos – seguiu por essa plataforma.
Bem, voltemos ao que disse o presidente do Conar: “Acho que nossa principal atuação não deve ser focada em notícias falsas. Tenho convicções pessoais do seguinte: é a boa publicidade que assegura a boa notícia. Portanto, o nosso foco deverá ser contra a publicidade fake (falsa). O Conar sabe, entretanto, que a transmissão de mensagens publicitárias pode ser feita hoje valendo-se de várias formas de comunicação. Para o Conar, todas as formas modernas de nova mídia são veículos de comunicação. Então, todas estão condicionadas a uma regra que foi estabelecida para todo o mercado de comunicação. Dessa maneira, vamos estimular a criação de uma consciência coletiva em favor da boa forma na publicidade on-line.”
Conteúdo produzido pela redação da revista Criática.