A Lego fará suas peças com materiais sustentáveis
É no centro da cidade de Billund, na Dinamarca, que está localizado o verdadeiro templo da mais famosa criação do setor de brinquedos da Lego: o simples e humilde bloquinho de montar!!!
O nome da empresa – Lego – é uma contração de duas palavras dinamarquesas, cujo significado é “brinque bem”. Suas raízes datam do início dos anos 1930, quando um carpinteiro chamado Ule Kirk Kristiansem começou a fabricar e vender carrinhos de bombeiros e outros brinquedos de madeira. Então, a partir dos anos 1950 ele passou a experimentar os blocos de plástico. Seu filho Godfred começou a comercializá-los, e não apenas como brinquedos, mas como um sistema de construção que podia ser expandido, o que que acabou evoluindo nas décadas seguintes.
Os blocos criados em 1958 foram se adaptando para poder representar coisas incríveis. Esse é o caso, por exemplo, da réplica que a Lego fez recentemente, e em tamanho real, do carro esportivo de luxo Bugatti Chiron. Usando mais de um milhão de peças do Lego Technic, uma linha da marca para modelismo, a empresa reproduziu fielmente o “possante francês. O mais interessante é que o exemplar funciona de verdade, podendo atingir cerca de 20 km/h, um pouco menos (!?!?) do que os 400km/h do original, cujo preço é de cerca de R$ 11 milhões!!!
Hoje a companhia vende seus produtos no mundo inteiro e já firmou parcerias com franquias de filmes como Batman e Star Wars. O objetivo é comercializar não somente os kits de tijolinhos, mas também filmes e videogames com bonecos Lego! Vale ressaltar que foram justamente essas parcerias que proporcionaram à empresa um lucro de US$ 1,2 bilhão em 2017, o que a ajudou a superar poderosos rivais no setor de brinquedos, como as companhias norte-americanas Mattel e Hasbro. E com isso os representantes da família Kristiansem – que continuam tendo o controle da Lego – enriqueceram mais ainda…
Mas voltando a Billund, a empresa tem agora na cidade um incrível prédio repleto de criações complexas, que vão desde uma árvore de 15m de altura até uma coleção de dinossauros multicoloridos, todos criados com um produto que quase não mudou nesses últimos 70 anos!?!? Esse verdadeiro “museu Lego” tem atraído dezenas de milhares de visitantes mensalmente.
A grande novidade, porém, é que a Lego tem divulgado que no seu laboratório de pesquisas já está procurando remodelar a peça que a tornou a mais conhecida fabricante de brinquedos do mundo!!!
Assim, seu objetivo é que até 2030 consiga eliminar sua dependência do petróleo, e passar cada vez mais a se utilizar de materiais reciclados com base em fibra vegetal!!!
Claro que esse desafio não é pequeno, pois esses blocos feitos com um novo material também precisam se juntar e separar facilmente uns dos outros, manter as suas cores vibrantes e brilhantes e ainda conseguir “sobreviver” quando eventualmente caírem nas máquinas de lavar roupa ou até mesmo nos vasos sanitários…
O que a Lego quer fazer é, fundamentalmente, mudar os ingredientes dos seus bloquinhos. Porém, a empresa deseja manter o produto exatamente como é!?!? Henrik Ostergaard Nielsen, supervisor de produção da fábrica da Lego em Billund, explicou: “No mundo todo os consumidores se mostram cada vez mais alarmados com o impacto do lixo plástico sobre o meio ambiente, e há um número cada vez maior de empresas que já estão tentando usar material de embalagem reciclado ou menos poluente.
Para nós, na Lego, o problema é mais complicado, visto que o nosso plástico não está nas embalagens, mas sim no próprio produto. Temos uma fábrica totalmente automatizada na qual tudo é executado com a absoluta precisão de um relógio. Trata-se de uma instalação enorme, na qual as máquinas organizadas em fileiras fundem grânulos de plásticos e os transformam numa pasta derretida que permite a moldagem de lotes de blocos coloridos. Estes posteriormente são colocados em carrinhos autônomos e levados para um armazém, de onde são distribuídos para o mundo todo. Diariamente são produzidos 100 milhões de peças!!! Precisamos aprender a fazer isso com outros ingredientes, o que não será fácil, mas acredito que sobrepujaremos esse desafio nos próximos anos…”
Com uma produção de tantos milhões de bloquinhos por dia, a Lego emite um volume substancial de CO2 (dióxido de carbono) para o meio ambiente – algo como 1 milhão de toneladas de CO2 por ano, sendo que 75% dessa emissão se deve à matéria prima que entra em suas fábricas.
A empresa, dentro de seu projeto de sustentabilidade e responsabilidade ambiental, está adotando uma dupla estratégia para reduzir esse volume. De um lado, até 2025 ela pretende impedir que sua embalagem chegue aos lixões, eliminando coisas como os sacos com as pecinhas dentro das embalagens externas de papelão. Além disso, está claro o seu desejo de que o plástico dos seus brinquedos tenha como fonte as fibras vegetais oriundas das garrafas recicladas.
O problema neste caso, como já mencionado, é que basicamente, todo o plástico utilizado no mundo é criado a partir do petróleo. Hoje a Lego utiliza uma substância conhecida como acrilonitrila butadieno estireno (ABS), um plástico comum usado nas teclas (teclados de computadores) e nas capas de celulares. É duro, mas ligeiramente elástico, tendo uma superfície polida.
Mas é justamente para livrar-se do uso do ABS que a Lego já algum tempo procura de maneira exaustiva por materiais novos e sustentáveis com os quais possa fabricar suas peças. Para isso a empresa já contratou cerca de 100 profissionais e investiu mais de US$ 10 milhões na pesquisa de diversos materiais. Esses técnicos têm testado metodicamente vários materiais para definir quais deles são capazes de suportar pancadas fortes e resistir às puxadas mais intensas. Eles também têm feito testes para verificar se eles suportam o calor do verão intenso quando manipulados em ambientes como Dubai ou Arábia Saudita. Outro item avaliado é a resistência da paleta de cores brilhantes, que tornaram as peças dos brinquedos Lego tão famosas, para saber se elas não se alteram com a umidade ou a alta temperatura.
Como se nota, não será nada fácil encontrar o novo material para substituir o ABS. E a Lego não precisará estar atenta apenas a este problema, mas também ao fato de que para se divertir as crianças estão utilizando cada vez mais os dispositivos que permitem distrair-se com os videogames. Assim, seus concorrentes não serão apenas os fabricantes de brinquedos tradicionais, mas empresas como Sony, Microsoft, Activision Blizzard etc.
Vale lembrar que, apesar de ter obtido lucro em 2017, sua receita caiu, o que levou a Lego a cortar cerca de 1.400 postos de trabalho para não voltar à grave condição financeira que vivenciou na década de 2000!!!
Conteúdo produzido pela redação da revista Criática.