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Será que toda cidade criativa é também uma cidade inteligente?


Há apenas poucas décadas, a mera tentativa de dotar um núcleo urbano de inteligência poderia ser entendida como uma insanidade!!! Afinal, como isso seria possível?

Agora, entretanto, no final da 2ª década do século XXI, isso tem se tornado cada vez mais uma realidade. Graças ao marcante desenvolvimento da inteligência artificial (IA) e das tecnologias de informação e comunicação (TICs).

No meu livro Cidades Criativas, descrevi algumas dezenas de cidades que podem ser classificadas como tal, onde, entre outras coisas, torna-se evidente a presença dos 4Ts: tecnologias (especialmente os avanços nas TICs), tesouros, [sejam eles naturais (montanhas, praias, clima etc.) ou construídos pelo homem (palácios, museus, arranha-céus fantásticos etc.)], talentos (existência de importantes instituições de ensino) e tolerância (diversidade étnica e religiosa, visando harmonia e paz).

Sabe-se que, assim como os seres humanos, as cidades são organismos únicos. Elas diferem umas das outras, tendo suas próprias histórias, culturas e economias. Elas também possuem níveis diferentes de crescimento e de avanço tecnológico. Assim, de acordo com especialistas em gestão pública, pode-se avaliar o nível de inteligência de uma cidade a partir de um conjunto de dez dimensões: abertura internacional, administração pública, capital humano, coesão social, economia, governança, meio ambiente, mobilidade e transporte, planejamento urbano e tecno­logia.

E é bastante interessante notar que os 4Ts encontram-se listadas entre as dez dimensões utilizadas para se classificar uma cidade como inteligente, não é mesmo?

Entre todas as dimensões, a primeira que se destaca para o desenvolvimento inteligente de um núcleo urbano é a tecnologia, cuja adoção é irreversível!!! O desenvolvimento de projetos e soluções urbanísticas inteligentes, por indivíduos talentosos, acontece em centros de pesquisa onde são feitos investimentos em inovação.

São essas mentes brilhantes que conseguem convencer os governantes a implementarem políticas públicas ativas que utilizem tecnologias capazes de melhorar a infraestrutura urbana e torná-la mais eficiente e adequada às necessidades de seus habitantes, tanto os atuais quanto os futuros.

Na prática, isso significa melhorar bastante diversos serviços diretos oferecidos à população – segurança pública, sustentabilidade, transporte –, criando soluções integradas de governança nas áreas de educação, saúde, planejamento e transparência da gestão pública.

De acordo com estimativas da Organização das Nações Unidas (ONU), até 2030 o número de habitantes nas áreas urbanas será equivalente a 70% da população mundial. De fato, acredita-se que no Brasil o número de pessoas vivendo nas cidades já chegue a 86%. Cada vez mais, esse número crescente de pessoas enfrentará trânsito caótico (problemas de mobilidade), deficiência/carência nos serviços públicos, falta de moradia (habitabilidade), alimentação precária ou dispendiosa (fome), poluição (sustentabilidade), redução de postos de trabalho (empregabilidade) etc.

Já existem diversas cidades no mundo que ocupam um elevado patamar em termos de inteligência público-administrativa e tecnológica, nas quais foram implementadas soluções inteligentes para solucionar questões relativas a resíduos sólidos e de arborização urbana, de monitoramento de desastres naturais, de aproveitamento da água da chuva, de inspeção automatizada de galerias pluviais e semáforos, de controle de iluminação pública e de segurança por meio de câmeras de vigilância.

Também no livro Cidades Criativas, destaquei, por exemplo, as cidades de:

Cingapura

Essa cidade-Estado é simplesmente fantástica, e espanta e atrai milhões de visitantes com as belíssimas construções que fez nesses últimos 20 anos. Em 2012, por exemplo, foi erguido num amplo espaço da região de Marina Bay um verdadeiro “tesouro urbanístico”. Trata-se do Supertree Grove, ou seja, um bosque futurista composto de “árvores metálicas” gigantes literalmente “plantadas” no local.

Mais de 160 mil plantas de 200 espécies – bromélias, orquídeas, samambaias, trepadeiras tropicais etc. – revestem as 12 estruturas de aço e concreto que compõem este inusitado jardim. O projeto foi idealizado pela premiada empresa inglesa Grant Associates, que, aliás, derrotou outros 170 concorrentes, numa acirrada disputa entre 24 países.

A construção exigiu uma equipe multifuncional que incluiu paisagistas, biólogos, urbanistas, arquitetos e engenheiros. Após seis anos de trabalho, eles finalmente conseguiram erguer essas “árvores” de 25 a 50 m altura, e então equipar suas copas – em formato de guarda-chuva invertido – com sistemas coletores de água de chuva. Essa água é utilizada na irrigação das plantas. Os sensores instalados nas estruturas captam energia solar, que, por sua vez, é usada no espetáculo noturno de luz e som. Uma passarela aérea de 128 m de extensão liga as duas árvores mais altas, mas, por questão de segurança, apenas um número reduzido de pessoas pode caminhar por ela, e apenas por 15 min. Apesar de o percurso ser bem curto, a experiência visual é imperdível!!!

Mas o ponto alto do projeto é mesmo o revestimento vegetal utilizado. A escolha das plantas seguiu critérios rígidos: as espécies escolhidas tinham de ser raras em Cingapura e, de fato, elas foram trazidas do Brasil, do Panamá, do Equador e da Costa Rica. Além disso, elas deveriam despertar um grande interesse visual e exigir fácil manutenção. Elas estão localizadas no espaço da Gardens by the Bay, uma organização independente responsável pelo desenvolvimento e gestão de vários parques, inclusive desse fantástico empreendimento em Cingapura.

O fato é que, em menos de quatro décadas a área verde total de Cingapura aumentou de 36% para 47%, o que, evidentemente, é uma demonstração de que nessa cidade se conseguiu alcançar o equilíbrio perfeito entre natureza, progresso e tecnologia – como, aliás, deveria acontecer em qualquer cidade inteligente que adora ser criativa!!!

Barcelona

Essa antiga cidade romana, capital da Catalunha, chegou ao século XXI como uma das mais inteligentes e inovadoras do mundo, sendo agora uma referência nas áreas de gestão pública, mobilidade urbana, coleta seletiva de lixo, prestação de serviços (como água dessalinizada) e preservação cultural (cuidado com seus tesouros).

Copenhague

A bela capital da Dinamarca já é reconhecida como uma das cidades mais inteligentes no século XXI, especialmente pelo seu projeto de emissão neutra de carbono. Para isso, ela instalou medidores de qualidade do ar nos postos de iluminação pública e adotou a energia solar em vários espaços públicos. Copenhague também conseguiu implementar um hábito bastante saudável na sua população: utilizar a bicicleta como meio de transporte!!!

Londres

A capital britânica pode se orgulhar de ter atingido os mais altos níveis em quase todas as dimensões consideradas na definição de uma cidade inteligente. Ela já conta com os quatro Ts, sendo, definitivamente, uma cidade criativa!!!

Nova York

Nova York é uma megacidade que oferece aos habitantes e, especialmente aos visitantes, uma intensa vida cultural, alta economia de energia, pleno acesso à Internet e sistemas tecnológicos avançados que permitem, por exemplo, um tráfego menos problemático. Recentemente uma companhia área introduziu no aeroporto um robô que lê a passagem do viajante, leva-o até o local correto do embarque e, inclusive, carrega sua mala!!!

Paris

O que faz da “cidade-luz” um exemplo de inteligência é sua capacidade de receber mais de 40 milhões de turistas estrangeiros por ano sem perder seu charme, sua elegância e sua oferta de ótimos serviços. Sem dúvida, poucas cidades do mundo têm tamanha projeção internacional (abertura), e sua capacidade em termos de mobilidade, transporte e tecnologia.

Tóquio

Campeã nas dimensões, tecnologia e gestão pública, a capital japonesa desenvolveu medidas eficientes para controlar a energia utilizada pelas suas casas e pelos prédios comerciais. O suprimento de água para seus munícipes é feito sem que haja praticamente perdas. Graças ao apoio de grandes empresas, como Mitsubishi e Panasonic, construiu-se um bairro inteiro totalmente ecológico em um espaço anteriormente ocupado por uma fábrica, e então equipou-se as moradias com energia totalmente renovável e aparelhos domésticos ultraeficientes.

Viena

Linda e eficiente, a capital austríaca mantém intactas sua arquitetura secular (seus tesouros) e as áreas verdes, oferecendo à sua população um transporte de primeira qualidade. Na cidade quase 70% da energia consumida é proveniente de fontes renováveis. De acordo com o ranking anual da conceituada empresa global de consultoria Mercer, em 2018 Viena foi eleita como a melhor cidade do mundo no quesito qualidade de vida!!!

 

Já no que se refere às cidades inteligentes brasileiras, cabe ressaltar que durante a cerimônia de abertura do evento Connected Smart Cities (Cidades Inteligentes Conectadas), cuja 4ª edição aconteceu em São Paulo no dia 4 de setembro de 2018, foi divulgado o ranking nacional. O estudo foi realizado pela Urban Systems, em parceria com a Sater. Entre as 700 cidades participantes, analisadas a partir de 70 indicadores, chegou-se à conclusão que a cidade mais inteligente e conectada do País é Curitiba!!! A capital paranaense foi seguida por São Paulo, Vitória, Campinas e Florianópolis.

Na sexta posição apareceu a cidade do Rio de Janeiro, seguida por Belo Horizonte (7ª), Porto Alegre(8ª), Santos(9ª) e Niterói(10ª). Vale lembrar que as cidades de São Paulo e Rio de Janeiro foram analisadas no livro Cidades Criativas; já as cidades de Campinas e Santos constam do meu livro Cidades Paulistas Inspiradoras. As demais cidades estarão no livro que será lançado em 2019, cujo título será As Encantadoras Cidades Brasileiras.

Conforme mencionado, esse ranking foi elaborado de acordo com os 70 indicadores dos 11 principais setores analisados, a saber: economia; educação; empreendedorismo; energia; governança; meio-ambiente; mobilidade; saúde; segurança; tecnologia e inovação; e urbanismo.

De fato, especialmente nessas últimas quatro décadas, poucas cidades brasileiras demonstraram tanto empenho quanto Curitiba, em especial no que se refere ao compromisso de seus prefeitos em melhorar a qualidade de vida de seus munícipes. Ali as gestões municipais tem se mostrado inteligentes e modernas, sempre buscando se concentrar em cinco pilares fundamentais: educação e empreendedorismo, ações integradas de incentivo à tecnologia, revitalização de regiões com emprego e renda, fomento (incentivos) e integração e articulação.

Na última década, inspirando-se em muitas gigantes de tecnologia estabelecidas no Vale do Silício, na Califórnia, formou-se uma grande onda de empreendedorismo em Curitiba, região onde, em 2018, atuam nove aceleradoras, sete incubadoras e 14 espaços de inovação aberta, atuando na região.

Destacam-se nela start-ups como a Pipefy, cujo sistema ajuda a automatizar processos internos, atendendo hoje algo como 15 mil clientes em 150 países; a Ebanx, que nasceu em 2012 e processa atualmente pagamentos para sites estrangeiros – em 2017 essa empresa processou US$ 1,2 bilhão para clientes como Spotify, Airbnb e AliExpress; a Madeira Madeira, um site de comércio eletrônico, entre outros.

Como se nota, a escolha de Curitiba como cidade mais inteligente foi mais do que justa, uma vez que a capital paranaense também é criativa e encantadora!!!

Observação importante

Para elaborar esse texto foram de grande utilidade os excelentes artigos Muito além do jardim e Smart cities, elaborados respectivamente por Sheila Mazzolenis e Veridiana Morais para a revista Riviera de São Lourenço, edição Nº 27, editora Sobloco.

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