Falta boa arquitetura em nossas cidades
O Brasil deve se orgulhar de ter entre os integrantes do júri do Pritzker – premiação mais importante no âmbito da arquitetura – o embaixador e economista André Correa do Lago, que, aliás, é o primeiro brasileiro a fazer parte dele.
Ele é um crítico ferrenho da nossa arquitetura, e destaca entre os vários problemas a lei de licitações, que, segundo ele, “só pensa no valor da construção, ignorando o custo futuro de um projeto ruim”.
Neste sentido, André Correa do Lago destacou: “A boa arquitetura pode ser cara, barata ou ter um custo médio. O inaceitável é que a arquitetura péssima também pode ser cara ou barata!?!?
Não é incompatível produzir boa arquitetura, mesmo em tempos de crise. As cidades melhoram graças aos bons arquitetos – que infelizmente são a minoria nos dias atuais –, pois, somente eles são capazes de contrabalançar o que propõem os maus profissionais – que, por sua vez, existem em grande número.
Por exemplo, numa cidade faz muita diferença a disponibilização de boas calçadas, ou seja, aquelas bem cuidadas. Nas ruas, à noite, a iluminação pública não deveria ser a branca, mas a amarela, que é quente e mais econômica.
Também são necessárias muitas árvores nas cidades brasileiras, especialmente nos bairros mais modestos. Lamentavelmente, ruas arborizadas são comuns apenas nos bairros onde vivem os mais ricos. Além disso, as calçadas precisam de árvores que façam sombra, mas nós temos a mania de plantar palmeiras. Estas, entretanto, não fazem sombra e cumprem apenas uma função estética.
No que diz respeito ao uso do calçadão, no meu modo de entender isso é um erro, pois mata a vida da rua. Essa ideia vem de um urbanismo que acredita na setorização da vida: esta rua é só de comércio, aquela outra é só residencial… Essa é de fato uma boa ideia para durante o dia, mas desestimula a habitação no local. A rua se torna inviável para quem, por exemplo, chega carregado de compras, para os que vêm de táxi, assim como para os mais idosos, os que têm mobilidade reduzida ou receiam pela própria segurança. O centro das nossas grandes cidades – como o de São Paulo, por exemplo – é um lugar maravilhoso para se morar, mas ninguém quer viver sozinho…
Também há o problema da falta de respeito aos edifícios históricos. De fato, nós os tornamos muito feios na medida em que arruinamos suas fachadas com aparelhos de ar condicionados pendurados no lado de fora, quando estes poderiam estar instalados internamente.
E voltando à questão de segurança, um elemento essencial para a vida nas cidades é a diminuição da violência dentro delas. A partir do momento em que uma cidade é considerada segura, torna-se possível incentivar a vida de rua em qualquer lugar dentro dela. Neste caso, não se teria nenhum bairro considerado ‘ruim’.
Por exemplo, na Grande Tóquio, uma região na qual vivem cerca de 38 milhões de japoneses, não se fala de áreas em que ninguém queira morar. Quando se tem segurança e um transporte público maravilhoso, as pessoas escolhem a moradia pela proximidade com o seu trabalho, com o local que estudam, com o lugar onde vivem seus amigos e parentes, com os parques etc.
Tóquio é uma cidade com pouquíssimas restrições. Edifícios comerciais, restaurantes e edifícios residenciais aparecem misturados. Pode-se caminhar de dia e de noite pelas ruas em segurança, e crianças de seis anos vão sozinhas para as escolas. Como a maioria das pessoas vive em apartamentos pequenos – com cerca de 40 m2 – sempre que podem elas vão para as ruas…
É vital, portanto, que os nossos arquitetos não permitam que as cidades brasileiras sejam cada vez mais feias em comparação àquelas onde prevalece uma arquitetura de qualidade.”
E você, caro(o) leitor(a) da Criática, concorda (ou não) com o fato de que em nossas cidades nós estamos muito atrasados na luta contra a construção dessas aberrações?
Conteúdo produzido pela redação da revista Criática.