Novas ferramentas de leitura facial podem se tornar perigosas
O psicólogo Paul Ekman, certamente o maior especialista em interpretar as expressões faciais, que já na década de 70 elaborou um catálogo de mais de 5 mil movimentos musculares para mostrar que o mais sutil enrugar de um nariz ou arquear de uma sobrancelha revelam emoções ocultas, pode estar preocupado agora, pois seu trabalho talvez resulte em uma “ferramenta tenebrosa”. Isso porque agora um grupo de jovens empresas norte-americanas (start-ups) com nomes como Emotient, Affectiva e Eyeris está se valendo da pesquisa de Ekman como espinha dorsal de uma tecnologia que usa algoritmos para analisar os rostos das pessoas e, dessa maneira, descobrir os seus sentimentos mais profundos!!!
Juntas, essas empresas estão acumulando um enorme banco de dados visuais de emoções humanas e buscando padrões que possam prever reações e comportamentos emocionais em grande escala.
Paul Ekman, que hoje está com 80 anos, concordou em ser consultor da Emotient, mas diz que está dividido entre o forte potencial de coletar todos esses dados e a necessidade de garantir o uso responsável deles, sem infringir questões de privacidade.
A Emotient já desenvolveu um software que pode identificar emoções a partir de um banco de dados de microexpressões que ocorrem em uma fração de segundo e já trabalhou para clientes do porte da Honda Motors e Procter & Gamble para avaliar as expressões das pessoas em testes de produtos.
O atlas desenvolvido por Paul Ekman já foi usado extensivamente por psicólogos, pela polícia e as forças armadas norte-americanas — inclusive em interrogatórios na prisão de Abu Ghraib, no Iraque, além de ter inspirado a série na TV que passou no Brasil com o nome de Engana-me se puder (Lie To Me).
Para aprimorar o algoritmo do seu software, a Emotient registrou reações faciais de um grupo de centenas de milhares de pessoas de várias etnias que participaram de uma pesquisa de marketing de seus clientes por meio de um chat de vídeo.
O software extrai de cada quadro pelo menos 90 mil pontos de dados, representando desde configurações abstratas de luz até minúsculos movimentos musculares que são separados em categorias emocionais como raiva, nojo, alegria, surpresa ou tédio.
Bem, com essas pesquisas em desenvolvimento, em breve, com o auxílio de um software desse tipo, em uma entrevista de emprego que use a leitura facial, vai ser possível detectar todas as suas afirmações mentirosas de um candidato.
Você acha correto que informações desse tipo influenciem na contratação?
Engenheiro, mestre em estatística, professor, autor de dezenas de livros, gestor educacional, palestrante e consultor. Editor chefe da Revista Criática.